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segunda-feira, 11 de abril de 2011

AS COISAS DA INFÂNCIA TEM OUTRO SABOR!


Depois da infância, eu experimentei muitas coisas das quais me lembrava como sendo muito boas, e descobri consternada que o sabor especial é específico do palato infantil. O bolo que minha avó fazia tinha um sabor “de quero mais”. Era simples, o sabor diferente ficava por conta de quem o saboreava, acho que na verdade era igual ao de padaria.

Esses dias fui apresentada novamente à marmelada do cerrado. Lembrava-me dela doce, suculenta, exótica, fruta de dar água na boca... Comi, e quase a coloquei pra fora! Agora achei-a feia, sonsa , esquisita e tinha bicho! Meu pai, para acabar de vez com minha ilusão, disse que quase todas “marmeladas do mato” quando amadurecem tem bicho. Então devo ter comido muito bicho... Acabou a vontade e aquela lembrança de coisa gostosa!

Comíamos resina das árvores, não por ser gostosa, mas porque éramos crianças e gostávamos de provar as coisas. Com certo nojo provei resina de árvore esses dias, e decepcionada descobri que não tem gosto de nada! Talvez, micróbios, bactérias e fungos (Eca!!). Ahhh! O picolé de groselha era uma delícia... Era! Hoje se tiver que engordar com alguma guloseima, com certeza não entrará na minha lista, esse talzinho. E o chiclete ploc?? Não consigo entender como conseguia mascar algo tão duro!
Decepcionei-me com os sabores da infância! Na minha boca já não são tão doces e suculentos.
As brincadeiras de roda, pique-pega, pique-esconde, passar anelzinho, jogar biloquê, bolinas de gude, finca, pular corda até ficar suada. Tudo é passado!Naquela época, ficávamos esperando o fim de tarde pra poder brincar até não agüentar mais, gastar energias. Tanta euforia que parecíamos periquitos em pé manga madura. Isso era bom, não havia crianças deprimidas, com colesterol alto e com diabetes(se tinha a gente nem sabia)! Meus filhos já não conheceram mais essas brincadeiras, pois a era digital tomou espaço no cotidiano deles. Disso eu tenho saudades! Quando conto para eles como eram as brincadeiras, ficam com cara de quem ganhou camiseta no aniversário ( aquela cara de “que saco”, embora a boca diga “legal”). Não acham interessante. Afinal o Messenger, Orkut, e outros sites de relacionamentos são o hit do momento. Isso sim é ser descolado.

Alguns dias atrás, aconteceu a feira cultural no CAIC(Centro de Atendimento Integral a Criança) e resolvi “pagar mico” e resgatar as histórias da infância. Professores fantasiados de tudo quanto é personagem! Lindo, lindo! Vesti-me de Branca de Neve, embora faltassem os cabelos pretos e os anões... Os jovens me confundiram com Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, Fada e até com o Super-Homem. Todavia, as crianças da nossa comunidade escolar reconheceram os personagens, embora eu em alguns não tenha também reconhecido. Constatei que essas crianças, por não terem computadores, nem jogos, nem DVD, ipod, ou mesmo televisão, procuram outras formas de se divertirem e como tal, usam muito a biblioteca da nossa escola. Isso quer dizer que são forçados a buscar o “velho”, o ultrapassado. E com isso saem ganhando. Afinal ler é a maneira mais eficaz para viajar na imaginação, para criar, para escrever e para se comunicar.



Não tenho vergonha de dizer que realmente acreditava em Cegonhas, em Papai Noel e na Fada dos Dentes. Chorava de dó da pobre Cinderela, morria de raiva da madrasta malvada da Branca de Neve e colocava o dente arrancado debaixo do travesseiro para ganhar uma moeda da fada... Podia até ser “sem noção”, mas vivi minha infância com minhas fantasias e sabores que hoje os jovens e crianças desconhecem. Hoje nem a boneca Barbie tem vez, quanto mais as de pano que fazíamos para brincar. Eu tinha medo do doido que jogava pedra, ou da Maria Sapo que era muito feia, boba e gostava de sapos (por isso o apelido). E hoje? Na atualidade há pedófilos, tarados, seqüestradores, gangues e drogas. Sai ileso, quem tem uma formação melhor e uma família estruturada.

Perdi-me no texto e contexto, mas achei um pedaço de mim escondido no baú da saudade. Pus-me a refuçar tudo, e achei lá no fundo, a voz mansa do meu pai contando a história do “Príncipe do Lodo”. Seria o Sherek em uma versão atualizada?? Deve ser...
Marly Bastos

9 comentários:

  1. Marly,


    Seu texto também me levou por caminhos e lembranças diversas .
    Foi uma viagem agradável e , assim como você , encontrei vozes familiares e cheias de amor.
    Percebi que , apesar dos pesares , a minha criança ainda vive dentro de mim .


    Bjo e uma Semana de Paz.

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  2. Olá Marly
    Se eu for falar de saudades da infância, acredito que daria um livro. Tive tudo que uma criança da minha época podia ter, e o melhor de tudo, espaço para brincar à vontade, e a ingenuidade que hoje já não existe mais.
    Bjux

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  3. Minha infancia não foi florida...Tive mais momentos de dor que de alegria, mas fui criança na vida de meus filhos, fomos crianças juntos e acredito que ainda sou mais criança que adulta.
    beijos achocolatados

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  4. Minha infância foi muito infeliz, mas seu texto alegrou-me.
    Beijos querida!

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  5. Marly querida...
    Vim desejar uma semana de muita paz pra vc!!

    Espero sua visita!
    Bjs
    Borboleta
    www.voandocomborbolletas.blogspot.com

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  6. Marly,


    Que texto mais lindo, cheio de amor pela infância vivida,tão gostoso de ler que parece até que pegamos nas mâos uma da outra e saímos a caminhar pelas estradas cheia de flores que só a infância tem! Lindo menina! Cheio de graça como as brincadeira da infância.


    Um abraço, Marluce

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  7. Olá querida Marly,

    Amei seu post. Me vi em várias coisas que vc comentou da sua infância.
    Muito legal lembrar como as coisas tinham outra dimensão pra nós.

    Maravilhoso mesmo.

    Obrigada!

    Beijos

    Ani

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  8. Ah, voltei pra dizer que tem selinho em comemoração aos meus 100 novos amigos no blog e você é um deles, passa lá querida.

    http://cristalssp.blogspot.com/p/selos-e-mimos.html

    Beijos

    Ani

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  9. Muito bom post. Tbm sou educadora e de vez em qo me deparo com questões como essas, o encontro das raízes com o imediatismo tecnológico.

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