Ahhh quão estranha é essa forma de amar! Seria perfeita se fosse aquela que o apóstolo Paulo nos ensina em I Coríntios 13:4-7: “O amor é sofredor, é benigno, não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça e sim com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
Todavia, amamos um amor enciumado, com contendas bobas às vezes. Sentimos medo de perdermos um ao outro; sentimos raiva por não sermos entendidos, de não sermos notados... Pensamos em desistir no meio do caminho quando sentimos os obstáculos maiores que nossas possibilidades[e muitas vezes voltamos ao ponto de partida...]. Irritamos por coisas corriqueiras, e fazemos de simples pingos de chuva, uma tempestade.
Apesar de tudo, sinto que vale cada dia contigo, quando ao acordar vejo que me contempla com olhos de admiração. Admiração?? Como pode amor? Já não sou mais a jovenzinha que você conheceu e ao longo dos anos notou o meu transformar em mulher madura, um tanto mais segura, com uma voz mais mansa, uma personalidade mais flexível e um olhar mais profundo.
Esses dias, você me emocionou quando ao abrir meus olhos espantada pela hora já perdida para o trabalho, disse-me simplesmente: “Eu podia ter te acordado, mas também perdi a noção do tempo ao contemplar sua beleza.”” Eu bela, e logo ao amanhecer? Cabelos desalinhados, lábios e olhos inchados?” “Sim, linda! Assim, lábios carnudos, olhos profundos que eu não canso de olhar a quase 30 anos...”
Veio-me tantas coisas para lhe dizer, mas fiquei com um nó na garganta... Aconcheguei-me em teus braços e deixei que as horas perdidas ficassem no tempo. Quase trinta anos sim! Conheci o amor quando olhou nos meus olhos! Conheci a paixão quando me beijou a alma, quando me despiu de pudores, quando me fez andar na “corda bamba” por mostrar-me que o céu pode ser tocado se os corações estão na mesma sintonia.
Houve sim muitos obstáculos em nossos caminhos, destrilhamos nossos rumos, mas os atalhos nos levaram ao mesmo lugar: Nossa vida juntos! Creio que os desencontros fazem parte do aprendizado, e é comum para qualquer ser humano. Somos humanos!
Inúmeras vezes já te declarei o meu amor, e nunca fui leviana em nenhuma dessas vezes! Leviana eu fui quando deixei de mostrar-te de formas diferentes o que tenho guardado na alma: Uma mistura madura de sentires tal como respeito, carinho, amor, amizade, confiança... Também não poderia mentir, dizendo somente coisas boas, pois em muitos momentos me sinto confusa e um pouco insegura, pois tenho medo que te vás e não me compre uma passagem para o mesmo destino...
Sinto raiva sim de você! Quando não consegue entender-me, quando teima em não ouvir o que realmente eu quero dizer, mas passa logo, pois sei que você não tem o dom da premonição, e nem de ter as mesmas opiniões que eu [afinal não são os opostos que se atraem?]. Fico chateada quando não percebe que troquei o esmalte “Vermelho Desejo” pelo “Vermelho Paixão”, sinto seu descaso quando não nota que tirei 2 cm do cabelo... Mas te perdoo quando diz que sou linda ao acordar!
Sei que tenho me tornado mais dengosa, mais carente e isso se deve talvez porque já me sinto órfã dos filhos que criaram asas e querem deixar o ninho. Sou carente de você, de me fazer notar quando está concentrado em seus livros e estudos, de te provocar com gestos sensuais para ver aquele famoso brilho nos teus olhos.
Você sabe que sou louca e aceita a minha loucura! Sabe que eu busco no arco-íris o mundo colorido feito pra nós, pois sei que ele existe. Eu sou muitas em uma só e te amo de forma única, estranha, lúdica e misturada, pois o amor é tudo junto e separado: [In]certezas, [des]apego, companhia, amizade, paixão, respeito e por último, definitivamente ele é eterno [mesmo contrariando o poeta Vinícius de Moraes]
Marly Bastos