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sexta-feira, 26 de junho de 2015

MINHA TIA-AVÓ MARIA BASTOS

Lembra do meu ingênuo tio-avô Zeca? Aquele que amarrou barbante no bilau pra não fazer xixi na cama, e amanheceu na companhia de uma berinjela? Que foi hipnotizado por uma jibóia e ficou semanas com manchas da cor dela? O da capanguinha com o dinheiro da aposentadoria amarrado no bagageiro do ônibus, e que ficou sem ele? O que pulou da porteira pensando que ia levitar, caiu, quebrou o pescoço e morreu?... Lembrou? Pois é, ele tinha uma irmã, nada ingênua, chamada Maria Bastos (e não confundam com Marly, por favor). Tia Maria era dessas mulheres que tramava a vida, que fazia acontecer, que vivia um tempo além do seu. E tinha um marido que era pura safadeza, mas “piava fino” na mão dela.

Tio José adorava visitar “as primas” de vez em quando, e isso era um problema, pois morava na roça, e pra ficar bonito pra ir pra casa da luz vermelha, não era fácil, pois tia Maria, logo questionava o porquê das roupas novas, da colônia, da barba feita, se ia apenas reparar um estrago que o gado fez na cerca de arame? Então ele vestia as roupas de trabalhar por cima da roupa domingueira, colocava as ferramentas no saco e a colônia também e saia por ali dando pancadas, tentando enganá-la. Não enganava!

Um desses dias quando chegou “do trabalho braçal”, ela generosamente, colocou água quente na tina para que ele descansasse os músculos. Ele ficou desconfiado, pois longe dela qualquer gentileza dessas... Ele foi pro banho e sondou a água, e descobriu um fino pó no fundo da bacia. Era lixinha do campo! (Chá de lixinha, uma árvore do cerrado, em banhos seca qualquer coisa, inclusive os escrotos e apêndice...). Ela queria castrá-lo mesmo, pois assim ele parava de safadeza. Tia Maria levou uns tabefes por causa disso. Ainda não existia a Lei Maria da Penha.


Tio José esqueceu o fato, deixou pra lá e continuou sua vida custosa, de visitar as primas, sempre no marasmo da tarde. Numa dessas escapulidas à casa das primas, ele chegou cansado, pois havia brincado muito com as meninas, tomou seu banho, vestiu um “samba-canção” feito de amorim, folgado e confortável, e desmaiou de exaustão na cama...Acordou sentindo algo frio nas partes baixas, arregalou os olhos quando viu tia Maria sobre ele, com cara culpada, e na mão um alicate de castrar boi, conhecido como "burdizzo", que interrompe a circulação do testículo, e esse órgão acaba morrendo devido à falta de nutrientes. Se estivesse quentinho o ferro do alicate, ela teria conseguido o intento... Tia Maria apanhou de novo.

Mais ou menos um ano depois, tio José teve um infarto e morreu, e tia Maria parecia aliviada, pois assim ele sossegava e ela aparava os chifres de vez. Dez anos depois, ela contava sobre as “escapulidelas” dele e ainda tremia de raiva. Eita mulherzinha rancorosa, essa tia Maria Bastos, preferia quebrar o brinquedinho, do que dividi-lo.

Se essa minha tia-avó fosse mulher da atualidade, ela viraria o mundo pra defender o que era dela. Bem, defender não sei se seria o termo correto, mas ela explodiria tudo pra não deixar pra ninguém o que lhe fosse por direito. Certinha ela...

Marly Bastos

quinta-feira, 11 de junho de 2015

VENDO UM CORAÇÃO





Foto extraída da internet


 Fiz-me palavras,

Assim poderias me ouvir

Fiz-me poesia,

Para alcançar a tua alma.

Fiz-me rodopio no ar,

Para que pudesse me arrebatar.

Fiz-me passos lentos,

Para que pudesse me alcançar.

Fiz-me toda carência,

Para que teu corpo a suprisse.

Fiz-me dengo intenso,

Para aninhar-me em teus abraços.

Fiz-me rosa no teu jardim,

Para colorir e perfumar seus dias.

Fiz-me orvalho, na tua escassez,

Apenas, porque é assim que se provê o amor...



Mas...

De tudo que me fiz, 
Você muito pouco quis.



Então,

Juntei tudo na mala do desprezo
 E arrastei caminho afora.


Quem poderá querer ainda,

Palavras que se tornaram ecos vazios?

Poesia sem sentido?

Rodopio a ermo?

Pés vacilantes e sem chão?

Passos lentos e atrasados?

Um dengo carente?

... Estou vendendo um coração

Com sonhos dilacerados

Teria algum pretendente?
Foto extraída da internet


Marly Bastos