Bicho-Papão, tenho medo de você!
O bicho-papão é uma figura fictícia mundialmente conhecida e é usado pelos pais para assustar e impedir que as crianças desobedeçam. É uma das maneiras mais tradicionais que os pais ou responsáveis utilizam para colocar medo em uma criança, no sentido de associar esse monstro fictício à contradição da criança em relação à ordem ou conselho do adulto: “Não desobedeça, senão o Bicho-Papão vem te pegar...”
Segundo a tradição popular, o bicho-papão se esconde no quarto das crianças mal educadas, nos armários, nas gavetas e debaixo da cama para assustá-las no meio da noite ou surge nas noites sem luar e coloca as crianças mentirosas em um saco pra fazer sabão. O bicho-papão é a personificação do medo, um ser mutante que pode assumir qualquer forma de bicho, um ser ou animal frequentemente de aspecto monstruoso comedor de crianças, um papa-meninos. Está sempre à espreita e é atraído por crianças desobedientes. Então, as crianças sentindo-se sozinhas e desamparadas, tendem a obedecer.
Lendas são lendas e são lendas porque acreditamos nos mitos que elas acalentam e que a nossa imaginação alimenta.
Eu fui uma menina de roça, e acreditava em todo tipo de coisas que inventavam e me contavam: Mula-sem-cabeça, da velha atrás do toco, de contar estrelas e criar verrugas nos dedos, de virar os olhos quando o galo cantasse ficava vesgo, e do Bicho-Papão. Aliás, do Bicho-Papão eu sempre tive medo, lembro que sempre olhava debaixo da cama pra ver se não tinha ninguém lá. Talvez, esse medo todo fosse por eu ser teimosa, birrenta,“fantasiosa” e meio levada da breca... E quando passei a dormir sozinha num quarto, ele começou a me aterrorizar. ...
Era noite escura e de muita chuva. Isso bastava para eu tremer debaixo das cobertas [medrosa não, eu tinha imaginação fértil] e comecei a ouvir um barulho debaixo da minha cama... Tudo escuro e sem energia elétrica, mas eu tinha que ver o que estava lá. Olhei e dois olhos brilhosos e vermelhos me espreitavam! Uma paralisia tomou conta do meu corpo, uma mudez se instalou em minha garganta, meus olhos secaram e eu não tremia, mas tinha tiques nervosos. Fiquei dura, a respiração pesada fazendo barulho e eu não conseguia controlar. O Bicho-Papão estava lá e ia me devorar [nunca fiquei sabendo como ele devorava crianças, se comia inteira, se aos pedaços, se somente o coração...].
O terror se apossou de mim, espasmos sacudiam meu corpo que deveria ficar quietinho. De repente senti dedos sorrateiros por sobre os lençóis em que eu me cobria e um frio na minha espinha congelou-me... Mãos peludas contornaram meu pescoço e eu pensei ser meu fim, de olhos fechados aguardei a morte! Ouvi no ouvido um sussurrar, um ronronar que me parecia familiar, abri os olhos e vi os olhos brilhantes do Bicho-Papão a um palmo ou menos da minha cara. Puf, a energia elétrica voltou, as trevas se fizeram luz e o Bicho-Papão se transformou no meu gato Siamês[ah, gato levado!] Eu tinha sete anos na época, e de lá pra cá sempre desconfiei que Bicho-Papão fosse na verdade gatos traquinos que em noites frias e escuras, queriam o aconchego do dono.
Marly Bastos
Este post faz parte da Blogagem Coletiva Lendas Urbanas, promovida pelo blog
Escritos Lisérgicos , em parceria com o blog
Uma Pandora e Sua Caixa . O Bicho-Papão é uma lenda mundial e com uma variação enorme de nomes.