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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O MENINO XONDA


         O menino Xonda era pra lá de estranho. Criaturinha magra e joelhuda. Tinha orelhas que pareciam parabólicas, dentinhos de rato, cabelos loiros e carapinha e pra terminar uma cor de terra arenosa. Bem... Mas apesar da aparência, não era isso que fazia dele um ser esquisito. Era o comportamento, seu jeito de ser.
         O menino Xonda, nasceu de parto normal, mas normal ele não era. Tinha um retardo mental, embora ele sabia fazer contas como ninguém. Desde os dois anos ele fazia cálculos enormes. Cresceu assim, no mundo da lua, e com a mente na matemática. 
         Com vinte e três anos era um homem forte, feio e com a mente de menino. Viajava na imaginação, tendo como meio de transporte carrinho feito com “ lobas”(fruto de lobeira, uma árvore típica de cerrados); sua fazenda era debaixo de uma árvore frondosa, nas terras do meu pai; todo seu rebanho de gado, eram representados por pedras de todas as cores que ele achava parecido com vacas, bois e bezerros. E claro, como todo
“fazendeiro” ele tinha medo de ser roubado por ladrões em tocaias e por isso ele adquiriu armas: Uma carabina de longo alcance (que na verdade era um cano velho, com um pedaço de madeira amarrado por uma borracha de câmara de ar.), um revólver (feito com uma raiz retorcida) e uma facão (faca de mesa quebrada, na verdade pouco mais de um cabo...)
         Ele odiava mulher. Não era viado, mas mulher pra ele era um ser indigno de se dar atenção e ao menos pegar na mão para cumprimentar. Aliás, mulher que ele conversava era com a mãe dele e com a minha, mulher nova nem pensar! E se alguma falasse com ele, apenas batia na orelha como que espantando mosca. Ou seja, resto da mulherada para ele, era resto e pronto, pois sua mãe sabendo do “problema de cabeça” dele, e com medo de que ele se envolvesse com mulheres, incutiu na mente dele que mulher nenhuma prestava, e só queriam aproveitar dele. E claro, Xonda acreditou nisso piamente.
         Um dia, para fazer graça algumas pessoas pegaram o Xonda, vestiram-no como fazendeiro (camisa xadrez miudinho, calças jeans novinhas e bota de couro até os joelhos, chapéu Panamá e uma montaria de primeira) e o mandaram ir ao banco fazer um empréstimo pra sua fazenda... E não é que ele saiu de lá com o contrato quase aprovado? Faltava somente apresentar a documentação das terras para garantia do negócio! Eita lábia que o cara tinha viu?
         Eu mesma só acreditei que era tudo invenção dele sobre suas posses, consertos de estradas que havia feito e viagens ao exterior quando vi a fazenda dele debaixo da árvore, o gado formado por pedras, e os tratores que usava para fazer benefício nas terras feito de lobas. Sinceramente, fiquei encucada com essa capacidade mental tão imaginária em um homem de 1,90 de altura e pose de gente entendida.
Marly Bastos

15 comentários:

  1. Querida!!!!!
    Vi seu comentário no blog da minha irmã e corri aqui! Que delícia ver essa amiga blogueira de volta. E como sempre, com textos sensacionais.
    Beijos!

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  2. Querida amiga Marly, gostei que tivesses voltado. No tempo em que te li, fiquei a perceber que és talentosa na arte da escrita.
    E gosto tanto, tanto... de te ler, que já li tudo deste teu novo blog... rsrs... mais a sério, gostei do post inicial (que é objetivo), do poema (muito teu e excelente) e deste pequeno conto (uma narrativa agradável).
    Portanto, sê bem-vinda às lides blogosféricas e, acima de tudo, sê feliz.
    Beijo, querida amiga.

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  3. oi minha linda,

    que bom que voltou,
    o silêncio as vezes precisa
    conversar com a gente...

    saudades de você!
    beijinhos

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  4. Esse menino Xonda até que quebraria "meu galho" em algumas ocasiões (rsrsrs).
    Ótima prosa, Marly.
    Beijo, querida.

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  5. Olá Marly!
    Eitaaa como é gostoso ler suas escritas :)
    Que bom saber que vc está aqui!

    Um beijão imenso em seu coração...
    Verinha

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  6. Oi Marly..vou voltar pra ler o Xonda. Fico muito feliz por vc e a Verinha terem voltado.
    Muito mesmo!!
    Vc ta ainda mais bonita!!
    Bj
    Ma

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  7. Que delícia isso aqui!
    Ficou lindooooo!
    Estás ruiva, como eu!
    BjO amiga!
    Tava com saudade de ti.

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  8. Será que o Xonda tem capacidade de entender este texto? Muito bom!!!!
    Um beijo grande

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  9. Isto é real ou é uma historinha imaginativa??

    Se for real, muito bem contada.
    Se for ficção, permita-me gracejar.
    XONDAS??? não entendo chongas da origem do nome xondas?
    E também achei que "não era homossexual" destoou da história do fazendeiro... escreve logo "não era viado nem fresco", fica mais dentro do contexto! rs (ih, esqueci que vivemos época de ter que ser politicamente corretos...)

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  10. Uma história do sertão bem escrita, haja dor de cotovelo do povo pelo Xonda, que só pensava em "enricar". Olá Marly, parabéns pelo seu novo blog, estou seguindo. Um abraço, Yayá.

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  11. Bonita história. Esse Xonda daria um bom político, já que conseguiu enganar o gerente do Banco...Beijo, Marly!

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  12. Minha Marly,
    Algumas palavras escapam do meu portunhol, mas essencialmente, eu penso que Xonda ficou mais feliz que muitos fazendeiros , o seu gado era mais agradecido, seguro :)
    É uma historia real? De qualquer foma, gostei muito.
    Beijos.

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  13. Você disse tudo, Marlyzinha, acho os "Xondas" tem é lábia, isso sim, só tem caras de tontos, jeitos esquisitos, muito atípicos, mas na hora do "vamo ver" eles "botam" pra quebrar, nao se intimidam nao.

    Amadinha, obrigada pela foto (linda) que tirou no seu momento "adoçando a vida", ficou uma gata!!!

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  14. Olha, que legal isso! Ele criou seu mundo e viveu nele.Os puros de coração têm isso. Acho que o XOnda era gente boa. Legal estar aqui com você. Vou colocar um outdoor na porta do seu coração: PROIBIDO SUMIR. Beijos

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  15. Marly, valeu a pena esperar.
    A estória do xonda estava sendo aguardada desde o outro blog.
    Abraço!

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