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sábado, 8 de novembro de 2014

PONTUANDO A VIDA



Adoro as reticências... Acho que elas propõem um mundo de possibilidades: "Talvez...", "se...", "quem sabe...", "pode ser...", "quando..."

Reticências abrem um leque que abana a imaginação de quem ouve, também apazigua as dúvidas e falta de palavras para quem fala. Quando estamos cansados de tantos pontos finais, interrogações, travessões, aspas, chaves e colchetes, vem a maravilhosa reticência e nos faz ter ovulação múltipla.
Ela é gozo pra esperança, é veste para o mistério e é asa para o sonho.

Homem é reticente quando é colocado contra a parede. Usa expressões que nem eles entendem, mas a reticência vem em seu socorro e o que era para ser uma sentença mortal, passa a ser uma mensagem indecifrável: “Olha, veja bem... Não é que eu não queira, mas... A gente poderia, sei lá... Um tempo talvez... Ainda não estou preparado... Vamos pensar mais um pouco...” Heim? O que foi que ele disse mesmo?

Mulher é reticente, mas não pelos mesmos motivos dos homens. Elas querem fazer valer a lei da dificuldade, do encanto velado, do esconde-esconde, de atear fogo e apagar, de apagar e atiçar, de esconder o que o coração está gritando... O “talvez...” dela é charme, é incerteza de ser o certo, mas quase nunca é indecisão. As reticências femininas abrem brechas na esperança e colocam lenha no trem das expectativas. A reticência nos permite enxergar a esperança depois da curva...

A reticência é cômoda, estável e também covarde por algumas vezes. Por medo de mudanças ela inverte inadvertidamente a vida. E assim, a felicidade, os sonhos, os sentimentos, a esperança, a fé, fazem com que os momentos se tornam “suspensos”... Nem só de reticências se pode viver. É necessário a emoção e surpresa da exclamação(!), a curiosidade da interrogação(?), a metodologia do ponto e vírgula, o diálogo do travessão, a pausa da vírgula, e o “The end” do ponto final.

A reticência não ousa por um fim, aliás ela está numa linha divisória onde nada começa, e portanto, nada termina...Elas são oportunas e providenciais...a supressão das reticências, dá impressão que tudo chegou ao fim... Ou não! Elas nos deixam livres para imaginar o que pode vir depois, sem engessar as vontades, ou imobilizar a esperança... Há ainda muitas possibilidades !

Três pontinhos que faz toda diferença... Eles nos fazem ficar com o pé atrás, mas também nos faz comer nuvens (de algodão doce) pensando no que seria, será ou poderia ter sido. E aquela reticência dentro de um olhar profundo? Faz um frio percorrer a espinha, faz a gente gaguejar (isso é bem reticente), ficar “multicores”... Eu tola romântica que sou, suspiro reticências por todo lado!

A reticência também pode provocar lágrimas, quando depois dos três pontinhos vier seguida de um ponto final. É o inacabado sendo terminado... Ponto final é dor ou liberdade e reticência quase sempre é espera...

Marly Bastos

7 comentários:

  1. Olá, Marly.
    Fazia um bom tempo que eu não aparecia por aqui, e é sempre bom voltar a reler os amigos.
    Creio que, por medo do futuro ou por temor ante o desconhecido que surgirá da resposta dada, muitas vezes as reticências surgem como um mecanismo de defesa nosso, como um tipo de firewall de proteção, pois é da natureza humana querer sempre evitar o pior, mesmo que não haja motivos reais para isso.
    Abraço e bom domingo pra ti, Marly.

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  2. Muito bom , e gratificante estar aqui nesse Domingo.
    Todos os momentos vividos vale a pena,
    sejam bons ,
    outros nem tanto.
    E assim , que crescemos espiritualmente...
    Grande essa nossa amizade sempre com carinho ,
    amor , e acima de tudo respeito..
    Breve , muito breve..estaremos chegando a mais um Natal.
    Espero de coração poder comemorar ,
    e ainda poder contar com sua amizade.
    Minha vida teve varios altos , e baixo no decorrer desse
    ano.
    Porém , agradeço a Deus por ainda estar entre vocês.
    Não sei se soube retribuir seu carinho.
    O fato é , que mesmo distante nunca deixei de amar
    nenhuma dessas amizades , que Deus me abençoou
    nessa vida.
    Deus abençoe você sejas feliz sempre.
    Feliz Domingo.
    Beijos carinhos eternos..
    Evanir..
    Seu texto é algo , que toca a alma a mim,
    foi sem duvidas uma lição.

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  3. Olá, Marly, como vai? Gosto muito das reticências, talvez por acompanhar meu pensamento, que sempre tem pequenas pausas. Penso ser o ponto das possibilidades. :) É lamentável quando onde deveria haver reticências acaba sendo ocupado por um ponto final. Um abraço!

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  4. Marly queridoka,

    Que beleza de crônica!
    Você simplesmente falou tudo sobre as reticências e de uma maneira lindamente poética.
    Destaco a seguinte colocação: "Ela é gozo pra esperança, é veste para o mistério e é asa para o sonho". Que coisa mais linda!!!
    Na verdade, reticências me enervam quando sou vítima delas, mas adoro usá-las por conveniência-rs. Li um texto na internet onde um rapaz dizia que tem ânsia de desfechos e que aprendeu que as reticências dão muita agonia, já que nenhum dos três pontinhos encerra coisa alguma.
    Você continua maravilhosa com sua escrita.

    Beijão.

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  5. Marly, seu texto é poético e belo, mas confesso não saber lidar com reticências. Na literatura, elas nos possibilitam uma continuidade que vá ao encontro de nossos interesses imaginários. Na vida, podem alimentar infrutíferas esperas, entendimentos equivocados, esperanças frustrantes. Uma interrogação pode nos levar à busca de respostas. Uma exclamação é facilmente entendida. Um ponto final pode até provocar lágrimas, mas nos traz certezas. Bjs.

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  6. Marly, excelente crônica.
    Ultimamente ando entre três pontinhos, acho que diante de tantos acontecimentos ando na defesa. Sem certeza de nada... Falei até sobre isso, na minha postagem.

    Beijos e um vendaval de sorriso pra ti!

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