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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

CATARSEANDO!

                                    FOTO DA INTERNET

Eu acreditava que esquecer era ignorar, riscar da agenda, mudar de calçada, bloquear todo tipo de comunicação. Mas isso se chama “dar gelo”(e quem dá gelo quer revanche) que era enfim, ignorar com a razão e deixar padecer o coração. Padecer sim, pois cada esbarrão é como um terremoto dentro da gente, cada ligação que não atendemos é uma noite insone e em cada mudança de calçada fica a distância entre a raiva e a frustração... 

Com o tempo fui notando que o verdadeiro esquecimento preside não no fato de excluirmos a pessoa da nossa vida e sim de deixá-la se perder das lembranças cotidianas de tal maneira que se alcance a insensibilidade presencial que ela evoca. Entendi que a gente somente esquece quando a raiva para de assolar a alma ao pensar na pessoa, quando ela já não te causa mais sofrimento e sim indiferença.

Você esqueceu quando há uma diminuição vibratória da sua alma em contato com tudo que evoca o outro e nesse tempo, vem sobre você uma sensação indefinível, uma leveza incompreensível, isso porque o esquecimento traz em si o perdão (quando se trata de um coração magoado). O passado te assola? As lembranças te aprisionam? Então, você está deixando de viver seu tempo!

Para viver [plenamente] é necessário esquecer o passado ruim e isso implica “limpar a casa” para que outros sentimentos abram espaços para o futuro, apagando com a borracha do perdão todo embaraço que "borrou” as páginas da sua vida. Machado de Assis escreve que “esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso antigo”. Portanto creio que esquecer é a morte daquilo que faz o coração se contrair de nervosismo, dor, angústia, tristeza, frustração... Esquecimento é deixar ir... É quando novas possibilidades e novos encontros já  não incomodam mais e nem servem de escorras para aliviar sentimentos de frustrações...

Somente o perdão traz esquecimento, pois ele é o desapego total do sentimento de vingança (sempre queremos que o outro pague pelo sofrimento a nós incutido mesmo que não seja intencional; queremos que o outro se trumbique e a negação disso é hipocrisia). Perdão e esquecimento andam de mãos dadas, quando se separam, o primeiro morre e o segundo gera o filho chamado vingança sem causa. Perdão é ordenança divina (“perdoai e vos será perdoado”); portanto perdão é decisão de andar retamente e não sentimento (já que a alma é fraca pra isso, ela por si só não perdoa). Nesse processo de cura interior é importante lembrar-se somente do necessário e esquecer tudo mais, coisa que deixamos para a memória decidir (quem vai e quem fica...) No início desse processo, fica a sensação de que tudo é presente. Todavia, o tempo passa sem pressa e leva embora esse presente-passado. E sem percebermos o tempo vai conjugando o verbo passar, e ele passa... Passado, passou...

O tempo é um aliado que resolve quase tudo! O tempo cura feridas e as cicatrizes que ficam já não doem(elas ficam!),  pois o ponteiro do relógio da vida vai girando e levando junto as agruras da alma, de forma que as lembranças se eternizam em forma de aprendizagem, saudades se tornam brandas e ternas, tristezas já não há no olhar e promessas vãs são esquecidas na vã filosofia do viver... Tudo passa a fazer parte de um lugar bem longe!  E longe, tem a espessura de um perdão e quase a distância de uma lembrança que se dispõe em bagagem vivencial.

                                                                       Marly Bastos







14 comentários:

  1. Boa noite Marly!
    Que texto heim?
    O tempo realmente é o maior aliado em tudo, mas se não fizermos como você tão bem explicita, de nada adiantará o tempo.
    Gostei muito querida, bjs no coração.

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  2. Quase filosófico. Pra isso cada um tem a sua fórmula.
    Um beijo grande

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  3. Linda crônica, Marly. Mas, como é difícil, às vezes, excluir alguém de nossa vida...
    Beijos!

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  4. Neguinha li esse texto no Palavresias, é lindo de viver. Você tem reflexões incríveis. amo o que escreve, de verdade. É de uma sensibilidade fora do comum - consegue tocar a alma de quem lê.
    Um xero lindona!!! Que Papai do Céu te abençoe sempre, meu anjo de asas nos pés...

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  5. Que bom que te achei, Marly! Tentava vir aqui e recebia a informação que o blog não existia, durou meses. Ainda bem que não desisto e tentei de noco agora.

    Vamos ao que interessa:

    Texto lindo este, com a sabedoria de quem entende de sentimentos e sabe como viver bem. Viver bem é aliviar as cargas, deixar ir, deixar partir, criar espaços para que o novo chegue.

    Neste texto você descreve os sentimentos e dá o caminho para se livrar das mágoas.

    Um beijo imenso!

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  6. Um texto de ir e vir minha querida, porque não é fácil tomar atitudes quando não se tem um espaço mair..

    Grata amiga ,tem coisa que nos faz crescer.

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  7. Olá Marly, e que tudo esteja bem!

    Um belo que para os que vivem ou já viveram desta maneira o adotem.
    Eu sempre ouvi dizer que não saber perdoar e gostar de reviver e tanto a si como aos outros magoarem com antigos sofrimentos.
    Mas quando sabemos conceder o perdão, devemos ter em mente que não estamos perdoando somente ao causador do sofrimento, estamos perdoando a nós mesmos por nossos erros para atrair até nosso viver alguns tormentos, e perdoando e seguir vivendo outros tantos belos momentos que nos pode conceder nossos sentimentos!
    Sempre bom demais por cá estar, e ler teus belos pensamentos, bem como ter tua amizade e tuas gentis visitas e comentários, obrigado!
    E assim me vou desejando que o teu viver seja sempre de intensa felicidade, um grande abraço e até mais!

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  8. Oi Marly,

    Difícil as vezes tirar alguém de nossa vida... Dói, dói e a gente tenta se esconder atrás de sentimento que não nós leva a nada, só nos machuca mais.
    Mas penso como você, só o perdão traz esquecimento, pois ele é o desapego total do sentimento de vingança. Difícil às vezes dar o perdão quando reagimos, e agindo da mesma maneira, revidando as provocações, as afrontas e magoando também a outra pessoa. A gente pode até achar que sente aliviado ao responder da mesma maneira, mas se esquece que está gerando sofrimento para si mesmo. Essas emoções destrutivas queimam por dentro, tiram a paz e alegria. Como diz Dalai Lama, no livro A arte da felicidade: "um produto da paciência e da tolerância, é o perdão. Quando somos realmente pacientes e tolerantes, o perdão surge espontaneamente". Só o tempo para dissolver essas cicatrizes, esses tropeços e organizar nossos sentimentos...

    Um Registro perspicaz. Gostei imenso!
    Beijos e ótima semana!

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  9. Marly querida,

    Eu sinto muito pela sua perda. Não sabia que estava vivenciando uma perda tão grande. Fiquei meses ausente da internet, sem postar e sem acessar blogs, quando retornei não consegui acessar o seu, agora fiquei sabendo porque.

    Não há problema em expor e vivenciar nossas dores, nosso luto, é necessário nos darmos um tempo, aliás o tempo é o maior aliado, é ele que nos distanciará da dor e deixará no lugar dela uma saudade branda e uma lembrança eterna. Até lá muita força e luz para você.

    Um abraço bem apertado e cheio de carinho, que Deus a abençoe!

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  10. As nuances da vida estão aí para todo mundo vivenciar, mas ainda acredito no perdão para cura da própria pessoa. Parabéns pelo sábio texto, beijos.

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  11. Boa tarde doce Marly.. grato pela sua doce visita.. abordou assuntos que muito mexem comigo e que venho tentando curar em mim.. já fiz tudo isso e ir para frente foi o que menos fui.. ignorar quem me magoou foi na hora algo maravilhoso.. coloquei a pessoa na mesma altura que eu estava.. mas isso me corroía por dentro.. 1 ano de rejeição, ignorando todos e inclusive eu mesmo.. foi o perdão que liberou muita coisa de mim.. palavra muito bonita que as vezes não conseguimos lidar e aceitar .. perdoar é a maior de todas as libertações.. tira o fardo de nossas costas.. beijos doce amiga e até sempre

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  12. Acredito que o esquecimento não apaga marcas e sequer lembranças. Ele envolve sentimentos. Quando pensamos em algo que nos machucou, sem sentir raiva, mágoa, dor, o fato ficou no passado e pode ser recordado, naturalmente. Bjs.

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  13. Eis uma coisa que tenho trabalhado muito na minha vida, perdoar e esquecer.
    Mas as vezes qdo penso que a ferida esta cicatrizada e não tenho mais magoa
    parece que a pessoa faz de proposito algo ruim e ai tudo volta a estaca zero...mas
    sei que um dia conseguirei.
    Belo escrito.

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  14. Olá querida Marly,

    Belíssimo texto reflexivo e que traz uma sábia filosofia de vida.
    Há quem diz que perdoou, mas não esqueceu. No caso, penso que o perdão não aconteceu. Para mim, o perdão é lavar a alma de qualquer resquício de mágoa. Cicatrizes sempre ficam, mas apenas para nos lembrar de algo que não foi bom, mas que conseguimos superar. Já li que perdoar não é esquecer, mas não desejar mal ao ofensor. Creio que isso já é um caminho para o perdão. Conforme você salientou muito bem, o tempo é um grande aliado nesse processo. Somente quem não deseja perdoar alimenta o rancor.

    Belos dias!

    Beijão.

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