Total de visualizações de página

sábado, 18 de fevereiro de 2012

E ZÉ FINI!


         Esses dias estava me lembrando de uma turma da 6ª série noturno pra quem tive o privilégio de ministrar aulas. Na verdade eram adultos com déficit de aprendizagem, quase todos tri repetentes. Conversadores, engraçados, de bem com a vida e deixando a vida rolar sem muito estresse.

         No meio de uma explicação, Géfição pergunta:

         - Professora você sabe o que tem dentro da minha maLmita?

        - Não sei o que tem dentro da sua maRmita, deve ser o resto do almoço – Respondi meio irritada por ele ter interrompido minha explicação.

         - ARmoço? Esse eu “tracei” às 11 horas. Só tem um gaLfo.

         Então eu aproveitei a interrupção para continuar minha aula:

         - Já que estamos falando sobre a etimologia das palavras, e como eu expliquei que etimologia é o estudo do verdadeiro significado de uma palavra, eu gostaria que o Géfição explicasse como surgiu o nome dele. Sempre sabemos alguma coisa sobre a origem e a escolha desse nome que possuímos. Pode falar algo sobre isso Géfição? Hoje está muito falante, então vamos aproveitar e conversar.

         Géfição levantou mais do que depressa e começou sua história:

         - Ói eu sou do interior da Bahia, onde professor só tem o diploma da 4ª série... Eu lá seria doutô que ia ensinar pros professores. Quando eu nasci me deram uma madrinha muito “chula”, pois era doidinha de tudo! Acredita que ela num usava “lungeri” e quando dava vontade abaixava e mijava no meio da rua?

         - Mulher não mija Géfição, ela faz xixi – Rebati (mas devia ter ficado calada).

         - Ah, professora minha madrinha mijava mesmo! Só mulher educada igual a senhora faz xixi(sobrou pra mim). Pra senhora ter idéia, um dia ela entrou na minha casa toda esparolada, escorregou no tapetinho de retalhos (minhas irmãs tinham acabado de encerar o chão que estava liso como quiabo) e caiu bem no meio da sala toda esparramada e a saia no pescoço. Foi um vexame. Levantou depressa e pra despistar falou assim pro meu pai: - Cumpadi cê viu minha ligeireza? E ele respondeu: - Vi... Só que eu conheço isso por outro nome.

         - Géfição! Foco homem, você levantou da cadeira foi pra falar sobre a etimologia do seu nome!

       - Ah sim... Então, minha madrinha encafifou que eu devia chamar “Jefirson”. Era pra ser “Jefferson” como todo Jefferson chama, mas ela não sabia pronunciar direito. Meu pai e minha mãe acharam o nome “top” e lá se fumo pro cartório. Eu baianinho cabiçudo, perninhas finas e perebentas, cabelo “bom-bril”, já crescidinho e apoiando o nome “Jefirson”, pois ia parar de ser chamado de Pretinho. Aí professora, o escrivão pergunta pro meu pai: - Como vai chamar o reizinho? E meu pai mais que depressa diz: - Jefisson!

         Eu perguntei nesse momento:

         - Ué e porque ficou Géfição?

       -Então... O escrivão aprendeu a ler e a escrever com o professor formado na 4ª série como já disse antes, daí dá pra notar o “naipe” do sujeito. O meu pai não sabia pronunciar o nome que aquela maldita madrinha me deu(e ainda deu errado)  e o escrivão não sabia escrever o nome nem certo e nem errado e meteu no registro de nascimento Géfição Conseissão da Silva. A etimologia do meu nome é uma puta baianada professora e Zé finí!

      E eu afirmo, tive o privilégio de dar aulas de Língua Portuguesa para uma turma dessas. E tanto compartilhávamos que eles concluíram o ensino fundamental sem mais nenhuma repetência. Eles, adultos trabalhadores,  precisavam era de incentivo, de um jeito novo de explicação e interação. Os psicopedagogos afirmam que aprendemos mais quando o lúdico se alia ao conteúdo. E eu concordo!

       Acompanhei essa turma até o termino do ensino fundamental e o baiano Géfição participou dessa formatura parecendo realmente doutor.

                                                                Marly Bastos

         PS: A expressão “Zé fini” é uma corruptela sonora que transformou o [s] inicial em [z] da expressão original da língua francesa "C'est fini" que pronuncia-se [sέ finí] e significa "acabou" ou “é o fim”.

28 comentários:

  1. Mesmo? Que legal?

    Vc tão culta até dá gosto de ler seus "conto sôra".

    Abraço

    Zé fini tbm por aqui


    By

    ResponderExcluir
  2. Alunos são alunos em qualquer lugar e com qualquer faixa etária...kkkkkk sempre há os que se sobressaem de alguma forma, mesmo que na lábia, como o Gefição! rs

    Adorei a historinha... com certeza o bom professora faz grande diferença na vida de seus pupilos!


    Grande beijo e excelente feriado!!

    Ah, sobre seu comentário lá no blog, venho agradecer... é como eu falei para a Sabrina por lá... a escola está tendo que abraçar todos os projetos que o estado joga... projetos esses daquele tipo de educação que deve ser apresentada e efetivada em casa. Poxa, a escola pode até complementar alguma coisa, em forma de conhecimento sistematizado, mas o que vemos é um estado que tira todas as responsabilidades da família, sendo coniventes com o descaso e nos colocando como tutores de todas os alunos. Aí, quando o resultado e os tais indices aparecem, quem leva chumbo é o professor. Afinal, ele quem está na linha de frente! Uma pena...

    Valeu demais por seu comentário! Adorei!!!
    JoicySorciere => Blog Umas e outras...

    ResponderExcluir
  3. Adorei a história etimológica do Géfição...
    Marly, querida amiga, tem um bom fim de semana.
    Beijo.

    ResponderExcluir
  4. Lindo Marly, maravilhoso esse post, ainda estou rindo das expressões do Géfição... kkkkk...

    E "Zé fini"... adorei. Não é certamente fácil dar aulas a uma turma assim, mas quando se consegue obter algum sucesso, é um grande incentivo para o trabalho!!

    Bj e bom Carnaval!

    ResponderExcluir
  5. Olá!Boa tarde!
    Muito boa! Como sempre!
    Tu consegue nos manter atentos à sequência do texto...pois,está bem concatenada.
    E parabéns ao Géfição, mais um doutor desconhecido...
    Zéfini!
    Bom final de semana!Pulando ou descansando!
    Beijos carinhosos!

    ResponderExcluir
  6. Adorei seu post, esse Géfição.. rsrsrs.
    Deve ser fascinante ser professora de adultos, é uma coisa que sempre tive vontade de fazer.

    ResponderExcluir
  7. Acho que vc tá chateada comigo, pois nunca mais me visitou, se falei alguma coisa em meus comentários que te entristeceu me dia para que eu peça perdão. As vezes as palavras não chegam como deveriam...feliz fim de semana e feriado. bjos.

    ResponderExcluir
  8. Obrigada querida por não estar zangada...srsrsr...sei como é para quem trabalha fora é Deus renovando as forças a cada dia. ´e que sinto sua falta pois cada um conquista um espaço e quando somem fazem uma falta. bjim. Quando voltar de viagem, que decidimos em cima da hora pois eu ia ficar em casa, venho ler esse texto com calma.

    ResponderExcluir
  9. Em termos etimológicos foi mesmo uma geflição!
    Em termos de significância fiquei entendido com o novo significado da "ligeireza"!!

    Beijinhos...

    ResponderExcluir
  10. Olá, Marly. òtimo texto! Gostei do geflição. Beijos carinhosos e bom carnaval. Obrigada sempre!

    ResponderExcluir
  11. Marly amei seu texto e dei muita risada!
    Parabéns que Deus te abençoe hj e sempre!
    Beijinhos de sua seguidora Aninha,eiiii....
    Espero sua visita ao meu blog já algum tempo ein!!!
    *-*

    ResponderExcluir
  12. Marly, adoro quando você conta esses "causos" que marcaram a sua carreira. Além de serem super interessantes, o modo como você conta enriquece o nosso prazer de leitura. Muito gostoso ler suas postagens.
    Doces beijokas com carinho.
    Manoel.

    ResponderExcluir
  13. Eu acho admirável pessoas já adultas, ao invés de ficarem se lamentando pelo "tempo que perderam" correrem atrás de seus estudos. E mais admirável ainda são os professores que precisam de todo um método completamente diferente, com certeza, para lidar com estas pessoas, cuja realidade é bem diferente daqueles alunos que não trabalham, que vivem em um universo completamente diferente.
    Parabéns pelo post e pela atitude de mostrar outros lados que existem na educação e muitos desconhecem.

    ResponderExcluir
  14. Olá Marly!

    Primeiramente muito obrigado pelo seu comentário!

    Achei engraçada a história que compartilhara, apesar de não saber se é real.

    Estou seguindo-te!

    Beijos

    Anselmo

    ResponderExcluir
  15. Olá minha querida amiga!!!
    Vim lhe visitar, deixar meu abraço e colocar meu bloco na rua. E dizer-lhe que sua "Escola" é tudo de bom.Nota 10 em todos os quesitos, 10 em "harmonia", 10 em "alegorias", 10 em "adereços" e principalmente 10 pelo "conjunto". Que sua "evolução" nunca se dissipe e que você seja sempre a campeã desse samba-enredo chamado "Vida".Nessa folia, sou arlequim de sua paz e de sua alegria em viver.Conte comigo para convencer os jurados, de que sua "Escola"(blog) é NOTA DEZ em tudo.Bom Descanso!!! Rubi Valente.
    www.valentebrasil.blogspot.com

    ResponderExcluir
  16. Me emocionei com a pureza e a simplicidade de convívio.
    Vc sabe ter olhos de ver e um coraçao para sentir.

    Acho que esta formatura encheu de alegria o resto do ano.

    Lindo [muito mesmo].

    Obrigada por partilhar.

    Beijo

    ResponderExcluir
  17. Boa tarde, querida amiga Marly.

    Adorei!!
    Essa chance de aula para os adultos,é muito boa.
    É como um sopro de vida. Conheço muita gente feliz com esse projeto.
    De forma mais democrática e lúdica, todos se sentem à vontade.
    A sua profissão é linda.

    Que Deus a abençoe.

    Beijos.

    ResponderExcluir
  18. Coisa linda Marly!
    Como é rica a convivência com as diferenças quando temos sensibilidade para apreciá-la!
    Bjs minha querida!

    ResponderExcluir
  19. Marly, que bonitinho! Adorei a história onde a tua vocação impera. Por isso e só por isso, tudo acaba funcionando.
    Zé Fini!
    Beijo, linda.

    ResponderExcluir
  20. Olá Mary,

    Grata pelo seu comentário.
    Ser Professora é um dom.
    Comecei a mminha docência, dando aulas a estudantes trabalhadores, e foi a experiência mais enriquecedora, que tive, até hoje.

    Boa semana.
    Abraços de luz.

    ResponderExcluir
  21. Sabe amiga, ontem 18 de fevereiro foi meu aniversário, e eu considero este seu post um presente! Nossa, que delícia! rsrsrsrs
    Querida Marly , obrigada pelo carinho e comentário no meu cantinho! Não sei se reparou no autor daquela mensagem,é meu filho de 21 anos, que esta se preparando para ser Pastor , ele toca varios instrumentos musicais, canta, ministra e prega em sua igreja! Meu orgulho amiga linda!
    Obrigada por ser generosa em ler meus post e comenta-los, não sou professora , nem sei escrever muito bem, mas confio que Deus esta sempre a me capacitar em cada mensagem.
    Beijocas p/ vc tbém!
    A amo em Cristo!
    Marly Brito

    ResponderExcluir
  22. Ah, eu adorei o Géfiçon (que figuraça). Rsrsrsrs.... Adorei vc ter passao lá pr ame ver, beijos

    ResponderExcluir
  23. Que encanto de estória, Marly.

    Com sua típica leveza.

    Senti saudade da sala de aula, de quando fui professor.

    e Ze fini...

    ResponderExcluir
  24. Não consigo visitar todos como gostaria! Tento não esquecer de ninguém... E sempre cabe mais um...que nem coração de mãe...Feliz Carnaval! Sambando ou descansando! Abração cheio de confete e serpentina! Bjão no coração!
    Elaine Averbuch Neves
    http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com/
    http://www.dihitt.com.br/elaineaverbuch
    http://twitter.com/@elaineaverbuch

    ResponderExcluir
  25. (rsrsrsrsrsrs).

    Não é fácil encarar uma turma assim. Somente um professor de gabarito
    poderia ter capacidade de levar uma turma deste nível avante.

    Adorei ler.

    Beijos.

    ResponderExcluir

Se leu-me até aqui, deixe uma palavreseadinha aqui [blogueiros adoram comentários rsrs]