Total de visualizações de página

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"MURIÇO E MARIA SAPA"

        

Bobo no interior é um vocábulo que define um indivíduo que é desprovido das capacidades mentais, que se deixa levar facilmente por outrem, que só age por inspiração ou a mando de outrem. Enfim, e um Molenga, preguiçoso, Incapaz, Simplório, chocarreiro, histrião, idiota, jogral, palhaço, polichinelo, pomboca, tantã e truão.

“Muriço Bobo”(o nome original devia ser “Maurício”) era um desses. E como todo bobo que se preza, gostava de mulher, dinheiro e de não fazer nada(será que era bobo mesmo?). Tanto gostava de mulher que casou com a “Maria Sapa”, uma louca que andava com um pedaço de espelho, catava os próprios piolhos e os matava nos dentes tal qual os primatas. Jogava pedras em quem cruzasse seu caminho no dia em que estivesse zangada. Era um terror!

O dia do casamento teve chuva de arroz, carroça com latinhas atrás, e fogos de artifício. O lar doce lar era um rancho pau a pique, a cama matrimonial era um jirau (Espécie de grade de varas, sobre esteios fixados no chão, que serve de cama nas casas pobres), um colchão de palha que nada mais era do que um saco enorme com palha de milho seco rasgadinha dentro. O fogão era de barrela, e panelas de ferro e claro um pote em cima de uma estaca grossa. Estavam que era felicidade só, olhavam tudo e diziam “bãaaao”. E ali consumaram tudo!

“Maria Sapa” ficou grávida, o povo das redondezas comprou o enxoval, e Xamu (seria Samuel?) nasceu rosado e forte como um touro. Não tinha berço, e dormia entre os dois... Um dia, as varas saíram do lugar e Xamu foi espremido e massacrado pelos dois que tinham sono profundo... Ficaram desolados, mas no enterro já cogitavam que podiam fazer outro...

Os homens orientados pelas suas esposas, chamaram Muriço Bobo num canto e lhe apresentaram a camisinha de Vênus e disseram para ele que deveria usar sempre que fosse fazer “babagens” pra evitar ter outro filho, já que demonstraram não terem responsabilidade e nem competência para criar um filho. Ele prometeu usar.

Cinco meses depois estava Maria Sapa “buchuda” de novo. Questionado, ele disse que estava usando os “papos de anjo” que deram pra ele sim e que sempre os lavava e colocava pra secar, só que já estavam rasgados... Ninguém avisou para ele que esse material devia ser descartado após o uso...

Os dois esperavam ansiosos a chegada do novo bebê. Quando Maria Sapa deu os primeiros sinais das dores do parto, Muriço foi à cidade e comprou fiado um monte de fogos pra usar quando a criança nascesse. A dor de Maria atravessou a noite, o dia e finalmente na noite seguinte o bebê nasceu, todavia ela sucumbiu à morte. Muriço chorando e gemendo de dor, soltou todos os fogos que tinha comprado. Comprou para o momento e ia usá-los. Foi uma festa no céu, por Maria, pelos fogos!

Muriço Bobo perdeu sua cara metade, mas ganhou um rebento. À menina nascida ele deu o nome de Eva. Ela não ficou com ele, pois o povo decidiu que ele não tinha condições de criar a menina. Ela era um serzinho estranho que aos três anos jogava pedras nas pessoas que passavam em frente a casa dela, corria atrás dos meninos com um porrete...Eva repetia as mesmas coisas que a mãe fazia e sem ter a convivência com ela.

A vida é um ciclo e os rebentos nossa extensão. Boba? Nem um tiquinho! Louca?? Talvez um pouco... E quem não o é?!
                                                             Marly Bastos

27 comentários:

  1. Marly, minha querida. Onde você aprendeu a escrever desse jeito? (rs). Que postagem linda e repleta de ricos detalhes. Sua descrição faz com que a gente enxergue os personagens e o seu habitat. O bobo do interior (vocábulo) extrapolou. O pior é que conheço todos os sinônimos.
    Adoro esse seu modo de escrever. Não a conheço, mas esse é o retrato fiel do seu dom da escrita.
    Parabéns por me fazer gostar tanto de um texto.
    Doce beijo no coração.
    Manoel.

    ResponderExcluir
  2. Xi..nossa ..
    Isto de maluco tem de se lhe chegar e carregar para aprender...
    Não bastava um tantã senão logos os dois...

    ResponderExcluir
  3. Lindo texto, muito bem escrito, amei, beijos e um otimo dia para ti!

    ResponderExcluir
  4. oi Marly,

    perfeito seu texto,
    pude ver de pertinho cada coisa descrita por você...
    aqui em casa temos uma expressão que usamos sempre,
    "a fruta não cai longe do pé..."
    a Eva está aí e não me deixa mentir...

    beijinhos

    ResponderExcluir
  5. Marly, querida, independentemente de me constranger a inevitabilidade da força dos genes, o teu texto é uma jóia. Vivo, fotográfico, flagrante. Muito, muito bom.
    Marly, se eu fosse tu, vivendo nesse país continente, com esse imenso capital de público, eu publicaria, ainda que na primeira edição tivesse que arcar com as despesas. Seguramente que as subsequentes se esgotariam.
    Lindo, muito, lindo, princesa.
    Beijo da Nina

    ResponderExcluir
  6. Marly, que conto encantador!!!
    :)

    E sabe que me fez ficar pensando a respeito de até que ponto somos ou não livres?
    Eva saiu à mãe sem ter convivido com ela... Curiosíssimo!
    Adorei o conto!
    Parabéns minha amiga! Vc esrtá a cada dia melhor!

    Ah! Eu gostaria de lhe mostrar uma coisa pois estou explodindo de orgulho!!!
    Olha o que um aluno meu fez: http://alicenopaisdafilosofia.blogspot.com/2012/02/etica-e-moral-video-de-alunos.html
    Estou que nem uma profe-coruja morrendo de orgulho e espalhando p/ todo mundo!!! ;) hehehehe!
    bjo!

    ResponderExcluir
  7. Maravilhoso, "bel prazer" que me trouxe às suas deliciosas palavras, aqui reunidas lindamente. Encontrei-a por acaso, Marly...gostei daqui, já vou instalar meu retrato e vou voltar, sem dúvida...

    Um beijo,
    da Lúcia

    ResponderExcluir
  8. Amiga! Adorei esse texto...Juro q fiquei imaginando o lugarzinho e os dois e a casa, e a cama e o fogão e o nenem espremido, tudo! até a menininha jogando pedra... Riquesa de detalhes e de imaginação! Parabens! Adoro seu blog e quando vejo uma atualização entro correndo pra ver pq sei q é coisa boa! Desejo sucesso, amor e prosperidade pra sua vida!!!

    ResponderExcluir
  9. Marly querida,
    Seu conto nos transporta para esta tapera e nos faz ver o colchão,o jirau,o fogão e os personagens a quem vc deu vida com tanta precisão.Gostei muito e acho que um livro seu seria um sucesso.
    Bjssss,amiga,
    Leninha

    ResponderExcluir
  10. Nossa ..adorei o texto.
    É sempre bom passar por aqui e ler textos tão bonitos.

    Beijão.

    ResponderExcluir
  11. e como somos parecidos com quem menos queremos [as vezes]
    rs.


    beijao

    ResponderExcluir
  12. Ola, cnheca meu blog...
    www.israelcompras.com
    Ta rolando um super sorteio...
    Bjks
    Vivi

    ResponderExcluir
  13. INTERESSANTE ESTE CONTO...Me fez lembrar minha infãncia...
    Eu quero uma casa no campo
    Onde eu possa compor muitos rocks rurais
    E tenha somente a certeza
    Dos amigos do peito e nada mais.
    bjs linda.

    ResponderExcluir
  14. Maravilhoso! Tão raiz, tão bobo e tão sábio. Tão rico em cores, dores e simplesmente leve.
    Parabéns pela criatividade e lindo dom de escrever. beijo

    ResponderExcluir
  15. Olá querida,

    Delícia de texto!
    Amei ler. Encanta até pela descrição dos detalhes. Repito uma palavra que li por aqui e que achei perfeita para o texto : fotográfico.

    De loucos, todos temos um pouco (rsrsrs).

    Beijão.

    PS: Também gosto muito de você.

    ResponderExcluir
  16. Boa noite, Marly. Amiga, estou sumida com problemas na net. Postei hoje numa lan, mas não poderei vir sempre até resolver tudo.
    Um beijo na alma, fique na paz, e saiba que não esqueço de você!

    ResponderExcluir
  17. Que história mais estranha...
    Lindamente contada... estava a ver tudo, a viver tudo!
    Coitados daqueles seres...!!
    Um beijo muito grande

    ResponderExcluir
  18. Marly, que bela postagem muito bom mesmo, achei muito engraçado!
    Adoro seu trabalho!!

    ResponderExcluir
  19. Oi Marly,

    Texto muito agradável para a leitura. E no final, filho de peixe, pexinho é.
    Beijos.
    Lu

    http://lucianasantarita.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  20. Olá!Bom dia! Postagem linda e repleta de ricos detalhes. Sua descrição dos personagens, nos faz imaginá-los.
    Você sabe,que eu gosto de seu modo de escrever.
    É! De louco e bobo, todos nós temos um pouco!
    Boa quinta!
    Beijos carinhosos!

    ResponderExcluir
  21. TADINHO DO XAMU MARLY! rs
    Que criatividade você tem em? Ótimo conto. Ótima história.
    Estou seguindo ta?
    Beijooos

    saahandradee.blogspot.com

    ResponderExcluir
  22. Amiga, você escreve muito bem, pareceu-me estar no local vendo tudo... Beijão, Marly!

    ResponderExcluir
  23. Concordo plenamente com vc, esta no DNA...rs


    Muito bom, enfim..ciao

    ResponderExcluir
  24. pois é, o que mais me chamou atenção no conto foi o pai não ficar com sua filha.

    Quem tem direito de tirar uma filha de um pai, sem ao menos ele ter começado a criá-la. A sociedade nos julga, nos pune, e normalmente não faz nada melhor que a gente.

    Somos todos errantes, loucos, imorais. Apenas em níveis diferentes.

    Beijão.

    Ps: Palavra Vadia realmente não tem onde seguir ;)

    ----
    Site Oficial: JimCarbonera.com
    Rascunhos: PalavraVadia.blogspot.com

    ResponderExcluir
  25. Concordo com o Jim, na questão de terem tirado a criança do pai.
    Adorei o conto, leve, rico e simples ao mesmo tempo. Dá para imaginar direitinho os cenários, a época... maravilhoso!
    Poderia fazer parte de um livro de coletânea de contos, ou até mesmo a história virar um livro.
    Abraços!

    ResponderExcluir
  26. * de uma coletânea de contos

    (digitei meio rápido e saiu uma frase horrível)

    ResponderExcluir
  27. [risos]

    só você mesmo, viu Marly. Que delícia de estória. Deviam ler essa história nos consultórios dentários, nem ia precisar de anestesia.

    Adorei!

    Um abraço!

    ResponderExcluir

Se leu-me até aqui, deixe uma palavreseadinha aqui [blogueiros adoram comentários rsrs]