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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O DÓ DISPENSÁVEL...


O crocodilo quando está devorando suas vítimas chora copiosamente [quanto mais gostosa ela estiver, mas lágrimas]. Esse é o tipo de dó dispensável para a vítima. O dó que dura pouco visto que os interesses falam mais alto.
Encabulava-me a dor que minha prima sentia ao ver sua mãe matando uma galinha para o almoço. Ela acocorava perto da galinha agonizante e gemia, gemia e gemia. Lágrimas e soluços eram em abundância, todavia bastava ouvir o refogar da “pobrezinha” na panela que logo pedia para a mãe dar-lhe o fígado para provar... Esse é o dó dispensável pra galinha mortinha.
Já minha filha jamais comia carne de aves, pois tinha muito dó da pobre galinhazinha que morreu pra gente comer. Mas sempre pedia pra fazê-la ao molho, pois ela adora  [ainda] deixar o arroz bem molhadinho dele... Ué, mas o caldo não é feito da carne da pobrezinha???
E minha sobrinha, só come carne de boi [no açougue é difícil definir de quem é a carne]. A vaquinha não pode morrer, pois dá leitinho gostoso pra gente... E por acaso o boi é imprestável?? Se bem que ele não dá leite... E meu pai quando criança matou onze porquinhos porque ficou com dó de vê-los tão feios e magros no meio de uma vara gorda e saudável. Penso que os porquinhos feinhos dispensavam com gosto esse dó da feiura deles e preferiam continuar vivos.
Fico pensando quantos dós dispensáveis temos nessa vida? O agasalho que amarela na gaveta e sempre sentimos um aperto no coração ao ver aquele menino quase despido e no frio de trincar, bem ali na esquina, mas o agasalho continua na gaveta e já nem serve para ninguém da casa... Ou os sapatos que mofam guardados, ou os cobertores que apenas aquecem o guarda-roupa, ou as frutas e verduras que perdem na geladeira [enquanto muitos passam fome e vontade de comer algo...E a gente com tanto dó dos famintos. ]

Dó é o sentimento que é exprimido por um misto de pena, pesar e repugnância em relação a algo. Quando verdadeiramente sentido tem poder de mudar situações... Um dó que nos constranja a agir com veemência, com amor, com comiseração. Um dó que vá além de palavras e ações vazias. Não, eu não falo do dó da minha prima, filha ou sobrinha, pois essas eram ou são crianças, mas o exemplo vale para descrever o dó dispensável do adulto... Vamos repensar o dó social?

8 comentários:

  1. Amiga sua prima me lembrou um episódio dos Simpsons onde o Homer chora comendo sua lagosta de estimação. É hilário.
    Mas o dó social este não é meeeeeesmo. Quantos de nós morremos de só dos moradores de rua nesse frio que está fazendo e deixamos nossos cobertores aquecendo os armários?!
    Belíssimo post.Parabéns negona!!!

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  2. Boa noite Marly.. essa parte de matar a galinha.. eu presenciei na minha infancia.. aquelas galinha caipira para uma baita sopa.. o coisa boa.. coitada da galinha.. mas faz parte né rsrs linda noite bjs

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  3. Uma boa reflexão sobre o dó social. Tantas possíveis ações que esquecemos amarelando em algum lugar de nós.

    Aproveito para te convidar a fazer um teste que indiquei lá no blog sobre "que livro você é", tipo teste capricho. Lembra?!
    Bj

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  4. Olá Marly,

    Uma questão importante. Nunca fui fã das expressões 'dó' e 'pena', mas, querendo ou não, são sentimentos que somos levados a sentir. E para compensá-los, somente mesmo com atitudes que procurem amenizar as circunstâncias que os provoquem.
    Gostei muito da sua expressão 'dó dispensável'. Ela diz muito.

    Beijão.

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  5. Bom dia

    A verdade que dói... ver o menino que treme de frio, sem roupa, quando nós temos tanta dentro de gavetas e armários que nunca mais vestimos.. Emocionei-me ao ler

    Fique feliz
    *************
    Querendo, visite(m)-me

    http://pensamentosedevaneiosdoaguialivre.blogspot.pt/

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  6. Um grande texto, xexudinha. Eu até dou minha mão à palmatória. Um dia desses deitado, pensei: Tenho algumas de roupas em bom estado que não uso mais, vou juntar e dar a alguém. Boa ideia, né? Pois acabei esquecendo depois e não fiz isso. Mas agora vou sim, depois desse texto. E as pessoas não precisam de dó... precisam de soldariedade. Muito diferente. Beijos mil.

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  7. UN TEXTO QUE NOS DEJA UNA GRAN REFLEXIÓN. UN PLACER VISITAR SU ESPACIO.
    UN ABRAZO

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  8. Um texto que faz pensar. Na minha infância no sítio minha mãe sacrificava sem dó as galinhas para canjas ou refogados. E ver a cena era normal. Hoje não suportaria ver um frango degolado.

    Uma feliz semana para você.
    Bjs.

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