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domingo, 27 de novembro de 2011

O INGÊNUO TIO ZECA DE BASTOS.(Reeditado)

        
        O meu tio-avô Zeca era uma figura hilária.Tinha um pequeno porte, fala ligeira e olhinhos redondos e inquietos. Para bem dizer, ele era a estupidez em pessoa. Cometia gafes homéricas e isso para ele, era normal e corriqueiro.
         Meu avô, irmão mais velho do tio Zeca, contava que quando crianças, estavam no campo carpindo, e em dado momento o tio Zeca ficou parado, olhar fixo em uma moita, cor pálida e trêmulo. O chamavam, todavia ele não respondia. Então foram averiguar o que acontecia e descobriram uma enorme Jibóia que o estava atraindo como presa (geralmente fazem isso com galinhas ou porcos). Tiveram que arrastá-lo para longe para que o transe passasse. E diziam que ele ficou dias com manchas na pele como as da jibóia. Se é verdade eu não sei, mas como foi meu avô quem contou , eu tenho que acreditar...
         O tio Zeca, já estava um adolescente e continuava a fazer xixi na cama e isso o incomodava. Nenhum remédio que tomava conseguia resolver o problema e ele então resolveu tomar uma medida drástica. À noite, ele pegou um barbante e amarrou firme a cabecinha do “zequinha” e foi dormir tranqüilo, na certeza de que naquela noite não molharia a cama. Não molhou mesmo! Acordou com uma espécie de berinjela entre as pernas e já nem via mais o barbante de tão inchado que estava o pobre mijador. Quase teve que amputar o órgão sexual, mas com inúmeros banhos com “erva de Santa Maria e vinagre ainda houve salvação, ou seja, ao menos continuou lá. Tio Zeca cresceu, mas nunca conseguiu arrumar namorada, pois achava que se namorasse teria que beijar e isso era nojento. Acho que com esse pensamento, ele por certo, deve ter morrido virgem. Será que o barbante enforcando o “Zequinha” teve alguma coisa a ver com isso? Vai saber...
         Ele envelheceu e aposentou. Todo mês, ia buscar o dinheirinho do benefício em uma cidade vizinha. Sempre ia alguém com ele, mas num mês daqueles não teve ninguém disponível para acompanhá-lo e ele resolveu ir só pois, tinha medo de demorar a ir buscar o benefício e o banco ficar com o dinheiro dele. Viajou por duas horas num ônibus, foi ao banco, pegou o dinheiro, tomou novamente um ônibus para voltar e mostrar à todos, que era capaz de tomar conta de si mesmo.
         Entre a cidade grande e a cidadezinha dele, havia uma parada e o tio Zeca resolveu ir ao banheiro. Pendurou a capanga(tipo de sacola de pano que ainda hoje é bastante usada pelos agricultores) e avisou pra todo mundo do ônibus: “Num mexam aqui na minha capanguinha não tá?? Meu dinheiro de aposentado está aqui. Vigiem pra mim enquanto vou ao banheiro.” E assim foi ao banheiro tranqüilo, voltou pro ônibus e dormiu até chegar ao seu destino. Pegou a capanga que ainda estava pendurada e foi pra casa feliz da vida. Tinha conseguido! Sentia-se vitorioso por essa façanha.
         Bem... Como era de se esperar, ao procurar o dinheiro na sacola já não havia nada. Tinha sido roubado. Lamentoso ele dizia: “Eu avisei pra todo mundo tomar conta da minha capanguinha, pois meu dinheiro estava lá. E não cuidaram...” Naquele mês o tio Zeca teve que contar com a ajuda dos parentes e vizinhos pra poder comer e pagar as contas...
         Morreu aos 92 anos. Teve uma queda e quebrou o pescoço. Foi a última façanha do tio Zeca. Ele se dizia um verdadeiro alquimista, e encafifou que já estava no estágio de levitação. Então, resolveu testar sua fluidez... Subiu numa porteira (era o mais alto que sua idade permitia) e de lá se jogou no intuito de alçar vôo. E voou... Para algum lugar do infinito, numa viagem que para nós ainda é um mistério!

Marly Bastos

13 comentários:

  1. Belamarlyamiga

    Todos nós temos um tio Zeca, mesmo que se chame Leonardo, Porfírio, Salustiano ou Carloto. O único requisito é que seja ingénuo; já voar é mais difícil.

    De qualquer jeito, os nossos Tios Zecas deixam-nos uma herança fabulosa: o sonho. E quando alguém é capaz de sonhar, quem sabe se um dia vai voar...

    Qjs e bom trabalho de preparação

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  2. Quanta ingenuidade do pobre Tio Zeca! Que figura!
    Marly querida,
    Há momentos que temos que relegar algumas coisas em favor de outras mais importantes. Eu entendo.
    Beijos.

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  3. Que figura esse seu tio Zeca, não me espanta nadinha toda poesia que você guarda em si Marly.

    Gente rara essa sua família. Gente encantada, que encanta, na simplicidade.

    Beijos!

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  4. Oh Ma..que legal..
    Não lehal a morte do Tio Zequinha..

    Legal a maneira com que vc lindamente contou a historia dele.

    Vc é demais..sou tua fã..sempre..
    Beijinho...

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  5. Oi, Marly! Isso é o que eu chamo de um sujeito feliz. rsrs. A gente aqui preocupado com a existência, cheio de crises e o seu tio Zeca, numa felicidade de levitar aos 92 anos. hahahaha! Ótimo, acho que vou começara deixar pra lá esse negócio de ficar questionado muito a vida, a gente adoece muito rápido.rsrs. Abração e ótima semana.

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  6. Ele acreditava mesmo que podia voar???!!!

    O.O

    Oh, Tio Zeca...que pecado!

    Sobre o dinheiro, a técnica adotada, apesar de ingênua, deveria ter resultado, gata...Pelo menos eu acho. Que sacanagem desse povo do ônibus!

    Beijinhos e muitos, muitos brigadeiros pra ti, forevermente!

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  7. oi Marly

    coitado do vóvó..nâo teve sorte no vou....

    beijos saudades de voce!!

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  8. Marly, tudo bem?
    Pobre Tio Zeca, fiquei com pena dele, tadinho!
    Mas posso jurar que era feliz, mais que muita gente que sabe de tudo.

    Beijinhos e te cuida :)
    Ótima semana!

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  9. Então, desejamos que o inocente tio Zeca, descanse em paz... Bonitas lembranças, Marly. Beijo no coração!

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  10. Coitado desse teu Tio Zeca!
    Não acertou muito na vida!
    Há gente assim com pouca sorte.
    (Até o Zézinho lhe pregou uma partida!)

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  11. Boa tarde minha bochechinha rosada1
    Vc como sempre trazendo seu humor para nos encantar...
    Bjs

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  12. Marly, esse tio Zeca era uma figura. Tinha a pureza das crianças. Deveria ter sido um "boa praça", não é?
    Beijos com doce carinho.
    Manoel.

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  13. Bons tempos...roubavam se houvesse oportunidade não atacavam como feraz sobre a vida do outro.

    Abraço

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