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sábado, 5 de novembro de 2011

"BERRADINHO" Hoje vou falar do menino amarelinho ! Estou de mal da paixão e portando, nada de versos melosos!)

    
         Ele era uma criaturinha raquítica, amarela, barrigudo, pés descalço e totalmente discriminado pela sociedade, pois segundo se dizia, ele era um viciado hereditário. A mãe era uma alcoólatra e o pai ninguém tinha noção de quem seria (mas tinham certeza que boa coisa não era).
         A criaturinha era um moribundo! Assaltava os engraxates para roubar graxa de sapato, e a comia toda, se fosse incolor melhor ainda! Vivia pelas oficinas locais cheirando carburadores dos carros velhos, mangueiras de tirar e colocar gasolina, e até chão encerado ele caia de barriga ali e ficava respirando o cheiro da cera “Parquetina” ou “Tabu”. Um dia foi encontrado quase desfalecido, na sapataria do seu Silvio, cheirando os sapatos velhos, recém colados. Era a degradação humana aos nove anos de idade. Uma aberração genética para um população preconceituosa do interior.
         Chegou à pequena cidade um médico estagiário, que logo se entrosou com os habitantes, e claro, logo lhe foi apresentado o “Berradinho”. Contaram toda a história da família, onde ele vivia, em que circunstâncias, e disseram que não devia se preocupar com ele, pois era um caso perdido, pois desde os três anos vivia se dopando com tudo que era porcaria.
         O médico o chamou até o consultório e o examinou. Anunciou que podia curá-lo. E curou. Foi até um mamoeiro, fez talhos no caule e deixou escorrer a seiva amarga até dar umas duas colheres de sopa, misturou mel, chamou o “Berradinho” e o fez tomar tudo. Ele tomou. Quis vomitar e o médico não deixou (se vomitasse ia beber de novo). Ele não vomitou...
         A pobre criança quase morreu de tanto evacuar lombrigonas, lombrigas e lombriguinhas (deve ter seus nomes, mas sinceramente não me interesso por eles), enfim defecou vermes e vermes!
         Parecia que “Berradinho” era constituído apenas por vermes... Ficou pele e ossos, pois a barriga acabou. E com a morte dos bichinhos da barriga da criatura, acabou a vontade de comer graxa de sapatos, lamber chão encerado, cheirar carburador de carro à gasolina ou botina velha recém colada.        
         O problema do “Berradinho”, não era hereditário. Era adquirido por falta de higiene e cuidados. Incrível como apesar de tantas informações, nosso pais ainda sofre tanto com a verminose, que é coisa séria, pois são parasitas que mínguam a vida das pessoas. “Berradinho não era um viciado genético e sim um lombriguento, e isso fazia com que ele tivesse enorme necessidade de “combustível”, outros comem terra, outros só querem comer doces...
        Ahhhhhhh o nome dele é Bernadino!
Marly Bastos

20 comentários:

  1. Boa! A falta de higiene não está no cidadão e sim na política sacana deste País.
    Um beijo

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  2. Acabo de conhecer sua outra maneira de escrever e adorei!
    Quanta coisa a se pensar nesta história, infelizmente tão real... O melhor é saber que sempre há alguém disposto a ajudar, a curar mazelas que nem deveriam existir. Parabéns Marly. Beijo

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  3. Marly, apesar de estar de mal com o bem, você está de bem com a escrita. Muito legal a história do "Berradinho" e louvável a atitude do médico. Quantos "berradinhos" existem por aí, mal assistidos e discriminados. Muitas vezes com a simplicidade de um vermifugo podemos recuperar um "viciado por hereditariedade" (existe isso, ou é justificativa para não ajudar em algo que não dá IBOPE?). Como diria o Gonzaguinha: "Explode coração!".
    Beijos doces e carinhosos.
    Manoel.

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  4. Menina, hoje quero te contar:
    Ontem, depois da minha pizza no centro de Barcelona, voltando no metro leia um póster publicitário:
    "Él merece todo lo mejor"… no pôster aparecia um cão e uma montanha de comida: era uma publicidade de comida para animáis.
    Sim, mas na mesma parede havia o olhar dum menino com a sua barriga inflada de parásitos, num póster dois vezes mais pequeno e descolorido. Eu adoro os animais, mas naquele momento eu fiquei avergoado da minha pizza.
    O seu texto, como sempre, é ótimo e certeiro.
    Muitos beijos, minha querida menina.
    pd. O seu carinho nunca será desmedido :) Obrigado.

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  5. Todos nós podemos ser lindos... se formos bem tratados!
    E tu és linda... também pela forma como nos fazes ver que a beleza pode estar em todo o lado.
    Beijinhos.

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  6. Mery,

    Num pais como o nosso a miseria esta na falta de educação, de cidadania e das politicas publicas.
    E a vergonha esta nas atitudes da nossa classe politica.
    Como o Eduardo comentou, neste mundo "politicamente correto" de hoje, os animais tem maior exposição, pois movimentam mais a economia do que amparar menor em situação carente.

    E a culpa é nossa por permitir....

    bjocas procê

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  7. Você foi magnífica! Em texto claro e objetivo, mostrou uma das tristezas que ainda nos assolam.
    Sem contar que essa mania de julgar é um mal social terrível.
    Não fez versos mas não ignorou o amor, visto de um outro lado, também a chamar nossa atenção e cutucar nossos corações.

    Bjs.

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  8. Belo alvorecer minha bochechinha rosada!
    Vc sabe apresentar um texto tão bem escrito que nos deixa com vontade de seguir teus rastros...fantástico esse...reflexivo ...
    Bjsssssssssssssss

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  9. Lindo texto Marly, gosto das tuas histórias fortemente humanas. Penso que tudo isso, faz tuas poesias intensas, apaixonantes e cheias de energia, além de lindas, é claro!

    Beijo e bom domingo.

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  10. Realidade triste, né xexudinha da mamis? Tantas infâncias perdidas por falta de vontade política. Sei que se preocupa comigo, obrigadíssimo, mas estou bem, viu? Beijão na bochecha

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  11. Bom dia, querida amiga Marly.

    Menina... Adorei!!
    Um final feliz de onde a cura parecia impossível, um problema simples, um tratamento básico!

    Quando uma administração não sabe e não quer priorizar com determinação, tudo se confunde, se mistura, se corrói.

    Tenha um ótimo domingo abençoado.

    Beijos.

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  12. Um belo domingo e uma semana cheia de paz pra ti minha amiga,,,beijos e beijos.

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  13. Gostei bastante do seu texto e ele nos ensina o quanto ainda temos por evoluir neste Brasil imenso. Às leio as estatísticas de que estamos quase a exterminar a pobreza, de que demos um salto na qualidade de vida da população etc., e então me pergunto de que país estão falando. A realidade que vemos nas ruas é bem diferente a o abismo entre ricos e pobres só aumenta a cada ano.

    No caso da sua postagem, é interessante notar que a sociedade já havia condenado o menino, num julgamento sumário de que ele era um viciado hereditário e que, portanto, não teria cura. Era só questão de tempo para que morresse, desaparecesse de vez aquele problema.

    Meus parabéns pelo seu texto, dos melhores que já li na Net. Um beijo

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  14. Que triste isso... vida desumana.

    Tô seguindo. Se puder passa no meu e segue:
    http://leilakruger.blogspot.com

    Gostaria de te convidar a conhecer o romance que vou lançar ainda este mês, "Reencontro": uma história regada a literatura, música e poesia. Em formato novela, com acontecimentos surpreendentes, o livro coloca em xeque temas essenciais da vida e do amor... Até onde ir, até quando esperar? A partir de um encontro inesperado, tudo pode mudar...

    Bjo!

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  15. ADOREI,a seguir o blog (: , segues.me ? só se gostares :)

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  16. Bem que esse texto podia pegar emprestado como título "crítica da razão pura".

    Você arrebentou! Adorei! Sua criatividade não tem limites.

    Ótimo domingo para você!

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  17. A princípio, nunca achei seus versos de paixão melosos e sim, profundos e acima de tudo, inteligentes. Sabe fazer poesia sem cair no piegas, na pobreza cultural.
    Adorei conhecer sua forma de escrever em prosa! Devia fazer isto mais vezes.
    Um tom tão realista de um tema que por vezes nos esquecemos que exista.
    Parabéns, poetisa e escritora!

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  18. Marli, queridona,
    Você foi fantástica com este texto.
    É muito fácil fazer julgamentos precipitados. O
    Berradinho simplesmente foi sumariamente condenado, sem que lhe dessem oportunidade de dizer a que veio ao mundo.
    Salvas ao médico, que demonstrou espírito fraterno e amor ao próximo e foi logo dando um jeito de tratar do pobre menino.
    Todos devem ter oportunidade nesta vida. Não podemos desistir de ninguém.

    BRIGADUUU PELA PALAVRAS QUE DEIXOU EM MEU RECANTO.
    TE ADORO, LINDEZA!
    BEIJOS.

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  19. Doeu aqui, pequena.

    Tudo o que fala em crianças me toca profundamente.

    Um beijo.

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Se leu-me até aqui, deixe uma palavreseadinha aqui [blogueiros adoram comentários rsrs]