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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A VERDADE CABE EM TODO LUGAR?


Maria D’Guia era a caçula de 14 irmãos de uma família nordestina, que veio pra Brasília tentar uma vida mais fácil. Mas, tinham uma vida bem difícil. Às vezes, faltava o que comer e a pobre menina que nessa época tinha nove anos, ia pra escola com o bucho vazio, e por vezes o ouvíamos roncando, reclamando comida. Nessa hora juntávamos moedas daqui e dali por toda a turma da escola pra comprar o lanche pra ela. 

A menina tinha uma imaginação muito fértil e contava casos mirabolantes, de discos voadores, fantasma que sujava o uniforme dela(sempre estava sujo), duendes que apagavam os deveres e por aí. E por causa dessa “imaginação” mais do que fértil ela apanhava todo dia. A mãe, era chamada sempre para comparecer à escola porque ela não fazia os deveres, ou se fazia, os duendes apagavam. A mãe, nordestina arretada, dizia: “ Professora, pois te dou direito de espancar essa mentirosa, castigue essa bichinha, que ela não é fácil. D’Guia ficava com os olhos arregalados de medo... Mas, mentir era algo que já fazia parte do cotidiano dela. 

Um dia chegou à escola parecendo uma berinjela de tanto que apanhou por mentir, e nesse dia tomou a decisão de nunca mais falar uma mentira na vida. 

O pai trabalhava em construção como pedreiro, e não ganhava o suficiente pra alimentar tantas bocas. Todavia, podia faltar tudo, menos a garrafa de cachaça que nos fins de semana era motivo de confraternização entre os amigos de pinga. E para tira-gosto nada como pés de galinha bem cozidos até formar um caldo grosso. Era uma festança só! 

Num desses dias de festança, faltou o dinheiro pro tira-gosto corriqueiro e ficaram imaginando o que fazer para acompanhar a pinga. De repente, a resposta veio do céu: Os pombos do vizinho! Fizeram pombos à passarinho, e a festa rolou o dia todo. 

O vizinho esperou que os pombos voltassem pra casa na boquinha da noite, como era costume. Como não apareceram, ele saiu procurando suas aves de estimação de porta em porta, até que chegou à casa do pai da D’Guia e perguntou: 

- Por acaso os senhor viu meus pombos? Só voltaram quatro e seis não retornaram para o pombal. 

- Não vi não. Hoje não vi nenhum, achei até que estavam presos. Mas, procure que vai achar... 

D”águia ouviu todo o diálogo. E quando o vizinho agradeceu e estava no portão, ela saiu pela lateral da casa e chamou: 

- O senhor ta procurando seus pombinhos né? 

- Sim estou. Mas, ninguém sabe deles. 

- Eu sei... Olha aqui os pezinhos dos seus pombinhos - ela tinha colocado todos os pés num saco e abriu pra ele ver – Eles comeram seus pombinhos com pinga. Esconderam as penas e os pés dentro de um saco pra jogar bem longe amanhã, mas eu trouxe os pezinhos pra você acreditar que eles morreram... 

Nesse dia quase que D’Guia ficou órfã. O vizinho enfiou um revólver na boca do pai dela e disse que ia fazê-lo engolir a arma, tal qual engoliu seus pombos. Depois de muito deixa disso, pare com isso, pense bem, o vizinho relevou e foi embora. E nesse dia a pobre menina apanhou como nunca tinha apanhado na vida. 

Pobre menina pobre! Lamuriosa repetia sem parar: “ Eu não entendo o que querem comigo, pois se minto, apanho e se digo a verdade, apanho também! Assim fico confusa..."

 Acho que o problema é que ela disse a verdade numa "hora errada!" E ainda dizem que a verdade cabe em todo lugar! Tsi...Tsi...Tsi... 

Marly Bastos

18 comentários:

  1. Bom dia minha bochechinha rosada !!!!!
    Saudades sei que sinto,mas saber que vc anda por aqui me dar o alento do qual deixa uma pontinha de paz.Desejo saúde para os seus.Sei que quando der vou te ver muito,assim como tempos passado.
    Lendo seu texto lembrei-me da minha infância,do sofrimento que passei por conta de verdades ...só uma coisa te digo.Criança sofreeeeeeeeeeeeeeeee.
    Saúde pra familia e pra vc tbm!
    bjs de bom dia !!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. oi Marly,

    pobre menina,
    e pobre dos pombinhos...
    temos que saber a hora certa pra dizer a verdade,
    tem pessoas que não estão preparadas para ouvir...

    beijinhos

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  3. Que história interessante, Lembrou-me muito outros contos de por ex, Jorge Amado, ou Clarice Lispector! parabéns abraços

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  4. Excelente texto
    e otima reflexão ...
    La em casa, quando menina era assim mesmo...
    só que algumas vezes
    se mentisse era aceito como verdade,
    se falasse a verdade
    apanhava.
    Aff.
    Volto pra te ler mais depois.
    Bjins
    Catiaho Reflexo d'Alma

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  5. Não cabe mesmo... Uma triste história para mostrar claramente as faces da verdade.
    Beijo

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  6. E assim é a vida... Os pais mandam os filhos mentir e quando eles mentem para os pais são castigados;;; Vá entender a lógica de alguns neh?
    Bjos achocolatados querida e me desculpe o sumiço.

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  7. Ai, coitada da menina!!! Judiação, meu Deus!

    Adorei a história, Marly, parabéns pela criatividade.

    beijos.

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  8. Marly, ainda dizem que a melhor fase da nossa vida é a infância!Criança sofre pra caramba! Ter que entender o mundo adulto sem ter maturidade é duro, muito duro!! :) Beijus,

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  9. a verdade dói,
    a dúvida corrói.
    a mentira destrói.


    beijao

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  10. Sem pensar duas vezes, eu sempre opto pela verdade!

    Bela história Marly!

    Bjs

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  11. Lili,

    Tudo bem? Na casa da mãe? Embora o texto discuta as vertentes da verdade, penso que sem ela não crescemos e, mesmo, diante de consequências, viveremos por ela. Maravilha de texto!

    Beijos.

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  12. Saudades de seus textos, Marly!
    Muito bom, super criativo e com uma bela mensagem final!
    Grande abraço e sucesso!

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  13. ja vi historia parecida, as crianças tem uma inocencia meio cruel
    mas para os adultos a verdade é quase proibida para o bom convívio pessoal

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  14. Oi Marly
    Ótimo texto, as crianças sempre falam a verdade não é mesmo?! Por isso eu adoro crianças!
    Bjos. Fique com Deus!

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  15. Oi, Marly, como vai? Essa história é muito boa para pensarmos até que ponto se deve mentir, ocultar ou falar a verdade...quando criança eu era bem mentirosa, depois a própria vida me mostrou que mentir não é o melhor, mas que ocultar às vezes é necessário. Também quando criança meus pais me batiam quando eu mentia, mas quando alguém ia em casa cobrar algo e minha mãe não tinha dinheiro, por exemplo, minha mãe dizia: "atenda e diga que não estou..." Isso indiretamente não ensina a mentir?
    Seu texto é muito bom...um abraço!

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  16. E não cabe mesmo. Está certo que seu conto mostra uma situação reprovável, mas não queriam os pais que ela fosse verdadeira sempre? As mentiras de uma criança podem ser aproveitadas de maneira diversa, com uso de sua criatividade para desenvolvimento da escrita, por exemplo. Mas a verdade não pode ser apresentada a todo momento. Não conseguiríamos viver em harmonia se todos dissessem o que pensam, sem analisar as consequências. Bjs.

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  17. Olá, Marly.
    Muitas vezes, as crianças acabam perdendo a inocência de forma abrupta e forçada, o que pode marcá-las por toda a vida.
    Abraço.

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