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sábado, 10 de março de 2012

NÓ NA GARGANTA

Com um nó na garganta, abro com sofreguidão minha caixa de correios... Só poeira, extratos bancários, conta de luz e água. Abri afoita minha caixa de e-mails, só lixo, propagandas, e propagandas... Como assim??!! Ah! Vai ver que deixou mensagem no celular. Vasculho a caixa de entrada e nada, somente algumas mensagens de natal e ano novo... Vixe, faz tempo ... Pode ter ligado e não ouvi... Nenhuma chamada perdida... A minha ânsia geme por desejos de notícias! Cala um tom sombrio sobre a minha alma, um aperto que não me deixa gritar, nem chorar, nem sair do lugar. Há em mim um embevecimento pela desesperança. Paira no meu conformismo um turbilhão de coisas que não consigo classificar.

Incomodada,  fico olhando para o teto do cômodo que me limita, mas é o único que no momento me aconchega com braços brancos e frios. Revolvo as gavetas do tempo e descubro os mesmos pensamentos, as mesmas lembranças, as mesmas vontades, os mesmos desejos e você. E a mesma desatenção que sempre teve para comigo.

Você é sempre a minha última página de poesia, meu último raio de sol e meu alvorecer. Sempre você e nunca eu... Por que meu Deus, tenho que ser assim?

A noite vai longe, e da varanda vejo varar o dia, com o sereno nos meus olhos úmidos, e a penumbra ainda na minha alma. A brisa da quase manhã, acaricia com dedos frios meu rosto, mas eles não bastam à minha carência. Sou nesse instante pássaro que fugiu do bando e nem sequer sabe para onde o vento leva. Não tenho medo da gaiola externa, pois já estou presa aqui dentro, cantando um pedacinho de (in)felicidade, querendo um pouquinho de você.

Sinto-me abandonada pelo tempo, que deixou-me sem saber em que hora me perdi... Também já não preciso mais dele, pois tenho comigo meus eufemismos, hipérboles, metáforas, antonomásias e de sobra a eutanásia. Estou aqui exposta, nada disposta, franca e desarmada.

Eis a luz! Penso em Dostoievski... Num momento que lhe era contrário, no inverno rigoroso da Sibéria, a 40 graus negativos, preso numa cabana de madeira e na companhia de piolhos (e outros insetos), escreveu: “Não me sinto abatido, não perdi a coragem. Seja onde for, a vida é sempre vida, a vida está dentro de nós. Não desesperar, nem desistir, seja em que circunstâncias for, por mais dolorosas e miseráveis- eis a razão da vida.”

Que vergonha! E eu aqui me esvaindo em dor porque não mandas notícias... Vejo que o dia clareou totalmente e os raios solares anunciam que viver é preciso. Desfaço o nó da garganta na labuta da vida, pois é nela que vou esquecendo as dores de certas feridas. É no girar do tempo as cicatrizes vão desaparecendo e as imagens tão fixadas em minhas retinas, vão ficando baças...

Marly Bastos

23 comentários:

  1. Ah..Mazinha...

    Senti aqui um aperto no peito.

    Amar não é só alegria né?? TEM AS DORES, A ANSIEDADE, O APEGO....

    UM BEIJO....FIQUE BEM AI...

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  2. Puts...é bem por ai...as vezes precisamos de um baita susto
    pra valorizar o q realmente vale a pena.
    Adorei a cronica.

    [espero q a ruiva esteja bem zen....rs]

    Beijo

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  3. Oi Marly,

    O texto é de uma verdade que só remete a lembranças. Li agora um texto sobre ansiedade no blogue da Mallu e coloquei por lá que não tem como dominar a ansiedade, pois é como raiva, sede, fome, sono e o caminho é abrandar a sensação. Penso, assim, com o email, ligação ou contato que não chega, a necessidade de mudar o foro e reorientar a mente.

    Enfim, exercício para auto-estima.


    Beijos.

    Bom final de semana!

    Lu

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  4. Um lindo texto de desabafo e ansiedade querida Marly! O amor tem destas coisas...nem sempre é como se deseja mas vale a pena lutar. Porém, não perca mais do que o tempo necessário. Nem sempre a quem se entrega o coração o merece.
    Beijinho amigo, uma flor e vá lá...mais confiança em si. Bom fim de semana. Adorei ler o seu texto.

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  5. Por vezes, nesta ansiedade em focar-nos em uma coisa só, esquecemos do principal, que é viver.
    Por esta razão eu achei muito digna esta sua crônica, finalizou de forma inesperada e não negativa.
    Bom fim de semana.

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  6. Olá Marly,

    Nem tudo são rosas. Por vezes, há só espinhos.
    Sabendo, que a situação já não é nossa, ainda a desejamos.
    As mulheres são assim, feliz ou infelizmente.

    Levante a cabeça, olhe o sol e espere um novo acordar, um novo dia.
    É preciso RECOMEÇAR.
    E o nó da garganta se dissipar.

    Bom fim de semana.
    Beijos de luz.

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  7. Oi Marly,

    dor e coragem caminhando juntas.

    "A vida está dentro de nós", genial, é isto!

    Beijos

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  8. Falar do amor é falar da essência da vida, e isso nos torna vulneráveis... O amor é um modo de sustentação do desejo e da relação do sujeito com o inconsciente, isso quer dizer que amamos com nosso inconsciente.Freud considera que as paixões são, na verdade, ecos das lembranças do amor infantil. É o amor vivido na tenra infância que rege a vida de cada um. Dessa vivência resulta o que cada um será no futuro...
    O Tempo,é rei...e reina em todos os vínculos.Vamos em frente,
    A gente não perde
    O que nunca teve.
    beijos amada.

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  9. Desfazer o nó da garganta na labuta... assim nos é a vida, intensa como teu desabafo.
    Lindo! Beijos

    sentirempalavras.blogspot.com

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  10. Miga fico assim deslumbrada com seus textos, são demais, até na sua dor me instalo e me deleito nas palavras. Bom, parece falar por nós, expressa sentimentos que não são somente seus, que muitas mulheres se veem na mesma posição. Quando leio, é como se suas palavras saíssem de dentro de mim e não de vc, relatando o meu pensar. Obrigada a Deus pelo seu talento que nos enriquece sempre. Lindo!!!!!

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    Respostas
    1. Creio que a ansiedade é um sentimento que todos temos, seja em que setor da vida for. E essa ansiedade quando é fomentada, vai gerando um reboliço na alma que dói, corrói e mingua o corpo. E a única maneira de combater isso, é através do entendimento de que algumas soluções não estão ao nosso alcance e nem sempre depende somente da nossa vontade. Seguir em frente é o remédio, que em doses homeopáticas vão nos curando dia após dia.
      Obrigada pelo seu carinho de sempre Simone.
      Beijokas doces

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  11. Sei como dói essa ausência e a ansiedade que ela provoca!
    É dor... é dor sim!
    ... que só deixa marcas por dentro de nós!
    Muitos beijinhos...e torço para que apareçam notícias!

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  12. Olá!Boa noite!
    Olha!Realmente! O final, para mim, foi surpreendente...e positivo!
    Viver é preciso!
    Sei como é a ansiedade...da espera!...dia após dia, fui me reconstruindo, até que ... não esperei mais, rsrs
    Bom domingo!Muita luz!
    Beijos carinhosos!

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  13. Olá Marly Bastos. Antes quero agradecer a visita e o comentário no blog. Seja muito bem vinda.

    Na verdade, não são meus textos preferidos, mas sim aqueles que expressam exatamente a mensagem que eu quis passar neste. Afinal, basta ler os textos para compreender exatamente como penso e como eu vivo.
    É um trabalho mínimo para conhecer alguém, num mundo onde a maioria não consegue mostrar-se verdadeiramente.

    Claro que existem homens que desejam relacionamentos sérios, pois o amor é para todos.

    Obrigado de novo.
    bjobjo

    Bento.

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  14. Concordo totalmente com o final. Há coisas na vida que não deviam nos entristecer. Na verdade, há tanta gente em situação pior que é vergonhoso o que nos faz ficar tristes.
    Muito bom! Viva la vida!
    Abraços

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  15. Marly querida,

    E o tempo é o grande e inigualável remédio para as dores da alma...é ele que faz com que as imagens que um dia nos fizeram rir ou sofrer se embacem e um dia desapareçam de nossas retinas e de nossa alma.
    Bjssssss,
    Leninha

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  16. Marly, doce amiga. Nota dez nessa sua redação (faz de conta que é aluna do colegial - existe ainda?! rs). Pela imaginação dessa situação e pela criatividade, só poderia ser dez. Mas se a professora está curtindo isso tudo...vai acabar reprovada na escola da vida.
    Todo mundo tem um monte de conselhos e consolos, mas inteligente como você o é, sabe que só você se conhece o bastante para sair desse mergulho. Fôrça - vá à tona, encha os pulmões, oxigene-se e respire.
    Deus não colocou você neste mundo por acaso e você é uma pessoa muuuuito querida. Ele não permitirá que seu barco afunde, mesmo porque Ele mostra para você que a água está entrando e você não coloca o salva vidas. Fique boiando que Ele arrumará uma BOA mão para tirar você dessas águas. Tenha fé e acredite que foi meu coração que pediu para isso ser escrito.
    Beijos doces para um doce de pessoa.
    Manoel.

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  17. Olá Marly
    É a minha primeira vez por aki, gostei muito do jeito que vc escreve, é disso que eu gosto na Blogosfera, dá prá escolher, tem um pouco de tudo.
    Vai ter continuação? Porque eu quero te seguir (kkkk).
    Bjos.

    http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com

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  18. Oi, Marly! Por vezes me pego assim, pensando quanta gente sofre pelo mundo enquanto eu sofro por estar longe de alguém. Descreveu tão bem a agonia de esperar por uma mensagem que cheguei eu a sentir um aperto do peito! Lembrei, em seguida, da alegria pulsante quando vejo "uma certa mensagem" na minha caixa de e-mails. Sentimentos antagônicos e um só ser amado! Belíssimo texto, tenha um ótimo domingo!

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  19. A vida nos coloca de frente a situações que nos incomodam e a vontade de rever alguém importante para gente é saudável, mas não pode nos conduzir a um extremo em precedente. Achei o seu texto o máximo, parabéns querida, bjos.

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  20. Excelentes colocações, Marly.
    Acho que vez por outra a solidão e a angústia nos assolam internamente sem motivo algum.
    Nada que um pouco de reflexão não expurgue.
    O dia chuvoso e cinza de hoje infalivelmente será sucedido por um dia de Sol amanhã.
    Pode ser um dia de Sol d quase 40graus, como está fazendo aqui em Pelotas hoje, mas esse calor desgracento também passa, mesmo que demore.
    Abraço, Marly.

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  21. Que bonito e comovente!
    A vida é o maior império que temos, não podemos deixá-la partir,
    Um beijinho grande

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  22. Maravilhoso texto, Marly!

    Viver é preciso, mesmo quando nossa alma sangra. O senhor tempo alivia ou apaga a maioria das dores.

    Beijos.

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