HISTÓRIA DO OCO!(Infelizmente real...)

       Ele morava só. Num local totalmente ermo, mata fechada, sem vizinhos próximos. Na verdade morava de favores em terras de alguém que nem sabia onde ficava a propriedade. Para se ter uma idéia de como era o local basta o nome: “Oco”. Isso era um local de referência de uma região chamada “Mato dentro”... Havia outros locais vizinhos, tais como “Quiabo Assado”, “Rabeia Bode”, “Reza Braba”, “Cafundós”, “Medonho”, “Suspiro de Véi”...

       O seu Franco, já não tinha parentes e só contava com a presença dos fazendeiros da região que passavam pelo seu ranchinho de pau à pique de vez em quando, para saberem como ele estava. Ele vivia totalmente isolado, mas com boa saúde e disposição para cuidar da própria vida, plantar milho para tratar das galinhas, feijão de corda, mandioca no quintal, quiabo, jiló, pimenta e outras coisinhas para a sua sobrevivência.

       Numa manhã, passou por lá dois amigos que iam pra cidade e deixaram com ele uma carne-de-sol, prometendo que passariam à tarde para jantar com ele. Ele feliz, disse que ia preparar a carne para comerem com mandioca. Eles foram embora.

       Quando o sol já estava quase se pondo, os amigos pararam no ranchinho do seu Franco esperando matar a fome e ficar um pouquinho com o bom velhinho.

No ranchinho, estava tudo aberto, silencioso e o fogão sem fogo. Rodearam o rancho e nada do velho. Gritaram, e suas vozes retornaram como ecos... Cadê seu Franco???

       Saíram o procurando pelas redondezas, e depois de muita busca encontraram a capanga dele pendurada numa galha de árvore, um monte de gravetos por perto, e uma botina... Gelaram! Cadê seu Franco???

       Voltaram para o carro, pegaram uma carabina e lanterna e voltaram à busca. Encontraram marcas de algo arrastado e seguiram as pistas. Viram as roupas do velho rasgadas e sujas de sangue, e a outra botina. Mas... Cadê o seu Franco?

       Bem... Um pouco mais à frente estava a carcaça do seu Franco... E rastros de onça. Por ali tinha muitas onças pintadas, e elas escolhiam presas fáceis, tal como o pobre senhor, que por ser idoso, lento e sozinho foi um prato feito.

       E cadê a onça? Foi pro mato.

       E cadê o mato? Fogo queimou.

       E cadê o fogo? Água apagou.

       E cadê a água? O boi bebeu.

       E cadê o boi? Foi carrear trigo.

       E cadê o trigo? A galinha esparramou.

       E cadê a galinha? A onça comeu [também]...

       Sabia que isso chama parlenda? Pois é. Nada a ver, mas é que não sei como terminar meu texto...

       A história do seu Franco ainda mexe comigo apesar de já ter uns 18 anos que aconteceu isso. Era um velhinho que tinha uma esperteza e gentileza nos olhos que me encantava. E a gente quando ouvi uma coisa dessas, pensa que isso é história pra bobo dormir. Infelizmente, para o seu Franco foi bem real.

                                       Marly Bastos