É TÃO DIFÍCIL!

          É difícil reconhecer que eu poderia ter feito algumas coisas de forma bem diferente do que já fiz se tivesse tido o cuidado de viajar para dentro de mim mesma, sondado os sentimentos, apalpado todas as feridas que latejavam e ter força para fechar uma a uma. É tão difícil reconhecer que eu sou responsável pelos caminhos que trilhei, pelos tombos que levei, pelas pessoas que maltratei, pelas vidas que cultivei. Sinto dificuldade em lembrar de quantas pessoas desiludi, magoei e fiz sofrer por egoísmo, por imaturidade, por simplesmente não me importar com elas. Tão difícil confrontar com o meu caráter e conceitos errados que me formaram, e se tornanram arraigados no meu ser. É difícil reconhecer que a vida poderia ter sido melhor, se eu tivesse sido melhor...

        
         Díficil, muito difícil reconhecer que aquilo que eu chamava de sinceridade era na verdade grosseria, agressividade e falta de educação. E minha honestidade estava alicerçada nessa sinceridade...É difícil reconhecer que minha inteligência era na verdade tolice, pois me gabava de nao precisar de opiniões pois a minha já estava formada. E meu poder de argumentação e minha homilética não passava de uma maneira de silenciar os outros, pois minha inflexibilidade era irrefutável às idéias que me eram apresentadas. E a minha pronta resposta e argumento superior não passava de ignorância, visto que nao sabia usar a sapiência do silêncio e da reflexão.

         Tão difícil condenar minha perseverança, coragem e lutas passadas, visto que tudo era estúpida insistência, pressão e manipulação... Quantas vezes reclamei da solidão e descobri que tudo era na verdade medo da minha própria companhia. E o que eu bradava aos 7 ventos serem injustiças, não passavam de frustrações minhas, e as pessoas não tinham culpa das minhas desilusões fáceis, dos meus sonhos derrotados, das irrealidades que criei em expectativas, na ânsia de fazer o certo, de ter afirmação, de alcançar sucesso...É muito difícil admitir que exagerei em tudo, que passei longe de atingir o equilíbrio, de ficar no centro. 

         Tão difícil, mas tão difícil reconhecer que pra ser melhor tenho que optar por mudanças, ter flexibidade, humildade para metamorfosear meus sentimentos, meus pensamentos, meus conhecimentos até o fim da vida. Afinal, a vida é um eterno aprender, e morremos sem nada saber... Ao menos os sábios reconhecem isso!

Marly Bastos