Chego em casa e encontro meu filho esparramado no sofá, controle remoto na mão e passando canal por canal, reclamando que não tinha uma programa bom. Eu jogo a bolsa e chave do carro sobre a mesinha, me esparramo noutro sofá, tiro os sapatos e penso em voz alta:
-Estou somente o caco, hoje foi um dia corrido lá no trabalho, nem respirar direito pude, e agora tem uma montanha de roupa sujas pra eu lavar... Haja!
Meu filho, todo engraçadinho, e claro, dizendo de certa maneira a verdade à moda dele, retrucou:
- Mamãe, não sei por que você está reclamando, essa história está mal contada.
-Ah é? E que tem de errado em eu estar cansada e reclamar que ainda tenho que lavar uma montanha de roupas?
- Primeiro, servidor público não trabalha e segundo, não é você quem lava as roupas e sim a máquina de lavar.
- Hummmm... Sei
Fiquei pensando no que ele disse. Nem vou xingar porque o filho é meu. Mas, pensei no desaforo do que ele disse. Meus pés inchados de tanto ficar em pé na primeira jornada de trabalho: Escola, e agora ia começar e segunda: Lar doce lar, e levo esse balde de água fria. Bem feito, pra nós mulheres que têm duas ou três jornadas e não tem reconhecimento. Bem feito... Que raiva!
-Filho, você acha mesmo que quem lava as suas roupas sujas é a máquina?
- Tão somente ela mãe!
Ele dá uma gargalhada, e eu fervo por dentro. Penso mais um momento e com dificuldades levanto do sofá e vou cuidar dos afazeres domésticos.
Já no corredor, volto e digo pra ele:
- Bom saber que é a máquina quem lava suas roupas...
Quinze dias depois estava eu descansando, com meus pezinhos pra cima e o meu querido filho veio perguntando:
- Mãe, cadê minhas cuecas e meias? Minhas gavetas estão vazias...
- Ué, não sei, deixei por conta da máquina, ela não lavou não?
-Como assim?
- Você me disse esses dias, que servidor público não trabalha, e que quem lava as roupas é a máquina...
- Estava brincando mãe!
-Eu levei a sério, e até gostei de me livrar das tuas cuecas e meias.
- Por favor , desculpa, eu estava só fazendo graça, lave minhas roupas!
Olha, sinceramente fico com raiva quando ouço, algum homem informar descaradamente que a mulher dele não faz nada, só fica em casa. A gente vai à fundo nessa informação e descobre que ela cuida de quatro filhos, lava, passa, cozinha, faxina, coloca os filhos pra estudar... Ainda tem que estar disposta para fazer amor e se estiver meio descabelada, o marido ainda reclama.
Pois fica uma lição: fogão não faz comida, ferro de passar não passa, aspirador não suga o pó e máquina de lavar, não lava. Eletrodomésticos são ótimas ajuda, mas sem as mãozinhas para executar as tarefas nada funciona. Um bom exemplo é o carro, só sai da garagem se tiver um motorista... E isso homem sabe bem né?
Marly Bastos
Eu amo as palavras! E quando os sentimentos reboliçam dentro de mim, elas conseguem aquietar minha alma. Palavras são apenas palavras quando não formam a poesia da nossa alma, quando não gritam nossas agruras. Nas palavras encontro meu refúgio, faço meu ninho e transbordo meus mais loucos pensamentos. Nas palavras sou tudo!E posso tudo [ou quase...]
minha avó já dizia que é de menino que se torce o pepino...
ResponderExcluirboa lição foste dada ao filho..qdo crescer certamente será um homem a menos a pensar que o ofício de ser mulher-mãe-esposa-dona-de-casa, é fácil!
Beijo, Marly!
Fabulosa sua crônica! É uma justa homenagem as mulheres, principalmente as que trabalham fora. Falou e escreveu muito bem! Beijos amiga, como sempre você é sensacional!
ResponderExcluirOlá, Marly, gostei muuito do seu texto, pois me encaixo bem nesses perfil.
ResponderExcluirObrigada pela visita, volte mais vezes, é um prazer enooorme tê-la no meu espaço.
Beijos!
Sempre assim.Bj
ResponderExcluirOlha Marly, tenho uma amiga que nem o carro sai da garagem sem ela. O marido não dirige. Não quer, não gosta, não se sente bem.
ResponderExcluirMas é assim mesmo. O trabalho doméstico só é percebido quando não realizado.
Colocações muito bem feitas. Adorei!
Bjs.
Mãeezinhaaa essa o Isaac mereceu!!!! huahauhau
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