Viver o agora. Já! Essa é a melhor fase pra se viver. E eu já cheguei à conclusão de que nunca estamos velhos. Velho é alguém que tem mais ou menos outro tanto da nossa idade... Sempre foi assim.
Aos dez anos eu achava que ia demorar um bocado de tempo pra ter aquela idade fabulosa dos dezoito anos. Aí sim ia ser independente, ser adulta, ser gente. E demorou mesmo! Aquela banguelice que parecia não ter fim, e quando me apontaram os dentes, pareciam que não caberiam na minha boca. Sentia-me a própria “Mônica”, do Maurício de Sousa.
Tem uma fase na vida da gente, que não somos nem isso e nem aquilo, essa se chama adolescência (ou aborrecência). Quando eu era incumbida de fazer uma tarefa, sempre diziam:” Isso você dá conta de fazer, afinal já é uma mocinha!.” E quando eu queria fazer algo que não aprovavam diziam: ”Não pode, pois você ainda é uma criança...” Descobri que eu era quase adulta, quase criança. E quase nada compreendida. Os pés e mãos ficaram enormes e o nariz cresceu mais (ainda bem que menina não fica com aquela voz esganiçada, como a dos pobres meninos). E roupas? Nada fica bem! Seios que estão indefinidos, falta quadris, pernas finas, o cabelo sempre parece de um adulto jogado na cara de uma criança. Não tem outra palavra: Ficamos desengonçadas!
Lá pelos treze anos ficamos melhorzinhas, mas aí vem a fase do ridículo! É um tal de amontoar uma nas outras e rir de tudo (e de nada...), parecemos nessa fase um bando (ou alcatéia) de hienas. E passamos, do riso ao pranto com a maior naturalidade. Adolescente adora sofrer! Época em que achamos que ninguém nos ama, ninguém nos entende. Ninguém nos entende mesmo... Nessa fase nem eu me entendia (e hoje ainda não me entendo). Ser adolescente de novo? Nem se pudesse...
Então, chega o tão sonhado dezoito anos! E sabe o que muda?? Nada!!! No meu tempo começava a pressão pra casar! Vinha todos os parentes perguntarem pra quando era o casório “Moça velha não casa, heim??” Era o irritante comentários das tias carolas. Só sei que depois dos dezoito a vida passou voando, nem sei ao certo em que época fui mais feliz.
Vivi muito depressa os meus anos e quando cheguei aos quarenta, assustei! Comecei a fazer confusão com datas. Tinha sempre que contar a partir do ano do meu nascimento pra saber em qual idade eu estava (sabe aquela coisa chamada inconsciente? Acho que ele fazia com que eu esquecesse quantos anos já tinha vivido). E o incrível é que os efeitos da idade sempre são mais evidentes nos outros. Eles sempre parecem mais velhos que a gente, mais acabadinhos... Quando esbarrava em uma colega dos anos idos, ficava pensando “a vida dela não deve ter sido boa, está bem mais desgastada que eu...” Na verdade, o que acontece e que nos acostumamos com nossa gasta imagem no espelho. Envelhecemos lentamente e não percebemos os cabelos brancos que vão sendo acrescentados, as rugas que vincam a pele, a saúde que já não é mais a mesma, o corpo não tem a mesma elasticidade... Parece que a gente vai murchando como uma flor... O arranjo no vaso já não é tão formoso e não percebemos.
O fato é que eu não vi o tempo passar. E ainda continuo a achar que velha é a pessoa que tem o dobro da minha idade. Sei que já não tenho a formosura da rosa recém colhida, todavia exalo ainda o perfume maduro da flor que fenece lentamente no jardim da vida. Tenho o bom humor que a idade traz, e isso é uma preciosa qualidade que faz a minha companhia ser almejada e querida. Não “pago mais mico”, na verdade eu os compro e não me preocupo em parecer idiota diante de certas circunstâncias, pois descobri que ninguém é perfeito, ninguém sabe tudo, ninguém nunca erra, se assim fosse não seria humano.
No amadurecimento, a gente se apaixona pelo intelecto das pessoas, pela disposição no cotidiano, pelo riso solto, pela vontade de viver. Tem que ter certa postura diante da ditadura da boa forma física, da aparência impecável. Ou você se olha no espelho e aprende a gostar do que vê, ou será uma velha correndo atrás da eterna juventude. “Toda vez que eu olho no espelho, já não vejo quem eu via...” Não vejo, e não tenho saudades daquela imagem. Claro que uso os melhores cremes antissinais, tintas para os cabelos, massagem para conter as celulites, academia para ajudar nas articulações e respiração, mas eu me aceito nos anos que tenho, e de forma alguma minha vaidade renega essa idade
Recrio minha estória em cada esquina da vida, e hoje realmente não vejo mais quem eu via, mas como disse, a melhor idade é a que temos e então termino dizendo que estou melhor, melhor e melhor![Parabéns mamãe, por ter me feito a exatos quarenta (e uns) anos atrás].
Marly Bastos