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segunda-feira, 11 de julho de 2011

É POSSÍVEL EXISTIR VIDA ALÉM DA ERA ANALÓGICA?

         Pra quem acha impossível viver sem telefone celular ou internet, vou contar uma história bem real.
         Meu pai comprou terras em um local pra lá de atrasado e passou a morar lá pra fazer benfeitorias. Era em município de Padre Bernardo, não muito longe de Brasília-DF, mas até o início dos anos 80, não havia ponte que ligasse uma parte do município a outra que era cortada pelo Rio Maranhão. Todo contato que se fazia com a parte de lá era feito através de balsa, e por isso pouca movimentação pra lá. Quando meu pai comprou as terras já havia sido construída a ponte, mas o reflexo do abandono e incivilização ainda estavam bem fortes.
         Bem, quando fui passar uns dias lá, me convidaram para um baile. Achei que não devia ir pois, era uma mocinha comprometida, mas meu irmão disse que eu não correria perigo algum... Produzi-me e fui.  Chegamos num local que não parecia nada. Pensa num breu! Não havia energia elétrica (na minha casa, usávamos gerador), tudo a base de lamparinas queimando azeite de mamona. O chão era de terra batida e fofa, pra mim que estava de saltos era um suplicio, pois no escuro não conseguia ver os buracos.
         Quase não enxergava as pessoas, mas delas exalavam um cheiro forte, que segundo meu irmão era banha de porco pra “assentar” os cabelos. Vixe!!! Mais atrasados que a época da brilhantina. Quase ninguém tinha dentes, e os que tinham, os tinham em escassez. No ar misturava uma catinga de “pito” de rolo e cachaça. Vi adolescentes fumando, e os adultos justificavam que eram pra espantar os “borrachudos”. Passei de braços em braços à noite inteira pra dançar, um ritmo que eu nem sabia o que era. E pior que ora nos braços de um homem, ora nos braços de uma mulher, não tinha dessa não!
         De manhã estava com o pé torcido, cheio de calos, com a coluna travada, empoeirada até as pestanas, meio tonta de tanto bafo de cachaça e fumo de rolo. E com fome, pois não tinha nada pra comer e água pra beber  era o seguinte : num pote enorme, todo mundo enfiava o mesmo copo, tirava a água e bebia. Haja baba!! E pra deixar a água sempre friazinha, colocam uma perereca dentro do pote (fiquei pensando, ela presa ali dentro, devia fazer xixi e cocô na água). Passei sede a noite toda! E avisei, se alguém me chamasse de novo pra um baile desses, eu picaria em fatias finas!
         Sabonete era coisa que não existia nem no vocabulário deles. Uma das moradoras das redondezas, teve pouso na minha casa e comentou que nunca havia tomando banho com “sabão de cheiro” e nem dormido em cama tão macia. O café que faziam, era feito com caldo de cana batida e espremida... Simplesmente horrível e trabalhoso.
         Ah! O uso de uma perereca no pote era  geral, então se não quisesse beber água mijada e defecada por “cassota”(assim eles a chamavam) melhor passar sede, ou levar sua garrafinha de água por onde fosse.
                   As roupas masculinas eram confeccionadas com tecidos feitos no tear. Tear sim! Pegavam o algodão no pé, cardavam, fiavam e tramavam. Imaginem a delicadeza das calcinhas e ceroulas... Interessante que pra cada tipo de confecção a trama tinha a sua espessura exata: Lençol, toalhas, coberta, camisas, calças, peças íntimas...
         O arroz era descascado no pilão, tal qual o milho para a canjica. Farinhas eram feitas em todos os lugares (isso eu sei fazer e adorava) e o polvilho, acredite ou não, ele não é criado no saquinho já prontinho! É um trabalhão que nem imagina.
         Água encanada ou mesmo cisternas nem pensar! Buscavam água nos córregos e rios em uma lata equilibrada na cabeça, e de lá direto pro pote (a perereca já devia estar lá dentro... Mas o que será que ela comia?? Acho que morria de fome, já que ninguém vive só de água. Água com defunto de perereca! Aff... Esse costume me traumatizou...). Privada?? Pra quê? Tem tantas moitas de bananeiras por aí, vai atrás de uma. E você ia, e acabava pisando nos dejetos de um mais adiantado. Papel higiênico?? Que isso? Ah, sei use sabugo, dois são suficientes...(risos, com sua licença).
         Bem, meu texto está ficando muito extenso e temo cansar-te, por isso o encerro por aqui, mas ainda tenho que contar a história do velho Franco que foi comido por uma onça, e a do menino Xonda que era pra lá de estranho. O fato meus caros leitores e leitoras, é que existe vida além da era digital e porque não dizer analógica...
 Marly Bastos
        
         

17 comentários:

  1. Muito bom o texto; adorei. Aliás, como todos os seus. Vai ser talentosa assim "lá do outro lado da ponte, donde bebem água gelada por cassota". - rs

    abração.

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  2. Que situação hein Marly rsrsrs imagino que tenha sido uma experiência e tanto.. para quem já vive assim.. tudo é normal.. porém para quem possui um outro estilo de vida.. com certeza há um grande choque cultural.

    Um beijo em seu coração..
    Verinha

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  3. Ai, ai, Mar+ly. Tão bom ler você. Só fiquei curioso com a estória do velho Franco e a do menino Xonda. Kkkkk
    Abração com carinho!

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  4. amei a cronica acredita que esses dias não estava conseguindo fazer comentários será amada estamos tão acostumados.beijos semana de muita paz e amor!

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  5. Menina do céu como vc me fez lembrar meu nordeste !Estou postando prá ti alguma coisa só prá tú ter uma ideia da diferenciação de cada região.Com seu jeito de falar.
    O Nordeste é excelenteTem um jeito diferente
    que a outro não se iguala:
    Alguém chato é Abusado
    Se quebrou, Tá Enguiçado
    É assim que a gente fala
    Uma ferida é Pereba
    Homem alto é Galalau
    Ou então é Varapau
    Coisa inferior é Peba
    Cisco no olho é Argueiro
    O sovina é Pirangueiro
    Enguiçar é Dar o Prego
    Fofoca aqui é Fuxico
    Desistir, Pedir Penico
    Palavrão é Nome Feio
    Agonia é Aperreio
    E metido é Amostrado
    O nosso palavreado
    Não se pode ignorar
    Pois ele é peculiar
    É bonito, é Arretado
    E é nosso dialeto
    Sendo assim, está correto
    Dizer que esperma é Gala
    É feio pra muita gente
    Mas não é incoerente...
    Já imaginou como é nossa cultura?
    Bjs minha linda!

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  6. Marly,

    Ao ler essa crônica imperdível, acabei por fazer um glossário regional. Caraca, véi, quantas palavras nunquinha tinha nem ouvido? Super comédia!!Moça, você tá demais!Baixou o santo inspirador e não sai mais de você!Que ótimo! Bom pra mim, bom pra todos nós que te aplaudimos porque muito te admiramos.

    Eu já estava indo dormir, mas alguma coisa pareceu-me estar faltando. Pensei, pensei...Bingo! Era o blog da Marly Bastos, aquela moça esperta, bonita, que escreve umas coisas lindas....Eu ainda não tinha feito a minha tradicional e prazerosa visita!!!

    Bjkas com muito carinho. Que Deus continue te cobrindo de bênçãos!Você não existe, minha amiga! Te amo!

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  7. Putz!!! Onde fica isso mesmo??? Tenho q decorar pra não passar nem perto... A única vantagem é q nas festas só da gente feia e aí a gente fica se achando o mais lindo do mundo... rs

    Abraços

    Alexandre
    http://soupretomassoulimpinho.blogspot.com/

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  8. Crónica com muito humor...

    amarjunqueira.blogspot.com

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  9. ...jajajajajaj....
    Desculpe-me, minha querida Marly, mas imagino a expressão de seu rosto nessa situação .... Por favor, explique a segunda parte da história! Eu quero saber do vehlo Franco e a onça...Por favor, não me deixe em suspenso! Sabugo..???? jajajajaja
    Eu adorei seu realto.
    Beijos e bom dia.
    Sabugo...dois....!? jajajaja...Deus, nao acredito!!!

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  10. Cada época tem sua caracteristica e eles naquele tempo náo eram infelizes, hoje em dia com tanta tecnologia as pessoas nunca estáo satisfeitas, beijo Lisette.

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  11. Tudo, todos os momentos fazem parte dos caminhos,,,as vezes um pouco de facilidade na vida é bom,,,,beijos de bom dia pra ti.

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  12. Miga, seja o assunto que for, você detona!

    Meu Deus, que lugar era esse?

    Massss... a gente pensa que nao existe mais, mas sei, é o que mais tem, em determinas regioes, principalmente no nordeste.
    Tenho uma amiga do Amazonas aqui que é minha vizinha, e ela sempre que vai lá, volta contando cada "causo" que é de nao acreditar. As duas filhas dela (europeias-zinhas) tem pavor do Amazonas.
    Um dia eu vendo as fotos da família dela lá, e as meninas assim pra mim "tia, você também nao tinha dente, como eles" kkkk

    Adorei a crônica, amiga, muito boa!

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  13. Hoje a tecnologia afasta as pessoas. Por mais contraditório que isso possa parecer.
    É o que acontece.
    Bjos achocolatados

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  14. Ola querida amiga
    Estou na final da ostra poesia, me desculpe por mais uma vez vir lhe pedir votinho para a minha poesia, Precisamos. Mas sem a sua ajuda eu não irei conseguir. Prometo que passando esta fase eu virei comentar apenas sobre o conteúdo de seu cantinho.
    Como votar você entra no link …http://ostra-da-poesia-as-perolas.blogspot.com/
    No final paginas das poesias esta escrito
    VOTE CLICANDO NA PALAVRA COMENTÁRIOS Lindalva 1 comentários
    Por favor coloque coloque o nome da autora e da poesia, ( Precisamos ... Maria Alice Cerqueira e o nome do seu blog. para que Lindalva possa confirmar seu voto.
    Desde já lhe agradeço de coração.
    Tudo do melhor para você.
    Abraço amigo
    Maria Alice

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  15. vida?? onde??!! kkkkkkkkkkkk

    cruzis, Marly, perereca dentro da água??
    era o xixi da perereca que deixa a água fresca é??

    olha às vezes eu acho que tenho um pé no século passado..costumo dizer que nasci numa época errada... mas acho que eu não desse lugar não...rsrs

    Um beijo, querideza!!

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  16. Marly, minha amiga,

    Tenho pavor de pererecas, fiquei aqui imaginando a cena, inclusive, tempos desses assisti à uma pegadinha num shopping: as pessoas iam beber água e qdo se levantava o pano q cobria o bebedouro lá estavam as tais pererecas, eca, mil x eca...

    Excelente texto, rsrsrs

    bjão

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  17. E o certo é que a humanidade chegou até aqui sem celular!!

    Imagino todos os cheiros e arrepios dessa noite!!!

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