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quarta-feira, 6 de julho de 2011

A VERDADE CABE EM TODO LUGAR?


Maria D’Guia era a caçula de 14 irmãos de uma família nordestina, que veio pra Brasília tentar uma vida mais fácil. Mas, tinham uma vida bem difícil. Às vezes faltava o que comer e a pobre menina, que nessa época tinha 09 anos, ia pra escola com o bucho vazio, e por vezes o ouvíamos roncando, reclamando comida. Nessa hora juntávamos moedas daqui e dali por toda a turma da escola pra comprar o lanche pra ela.
A menina tinha uma imaginação muito fértil e contava casos mirabolantes, de discos voadores, fantasma que sujava o uniforme dela(sempre estava sujo), duendes que apagavam os deveres e por aí. E por causa dessa “imaginação” mais do que fértil ela apanhava todo dia. A mãe, era chamada sempre para comparecer à escola porque ela não fazia os deveres, ou se fazia, os duendes apagavam. A mãe, nordestina arretada, dizia: “ Professora, pois te dou direito de espancar essa mentirosa, castigue essa bichinha, que ela não é fácil. D’Guia ficava com os olhos arregalados de medo... Mas, mentir era algo que já fazia parte do cotidiano dela.
Um dia chegou na escola parecendo uma berinjela de tanto que apanhou por mentir, e nesse dia tomou a decisão de nunca mais falar uma mentira na vida.
O pai trabalhava em construção como pedreiro, e não ganhava o suficiente pra alimentar tantas bocas. Todavia, podia faltar tudo, menos a garrafa de cachaça que nos fins de semana era motivo de confraternização entre os amigos de pinga. E para tira gosto nada como pés de galinha bem cozido até formar um caldo grosso. Era uma festança só!
Num desses dias de festança, faltou o dinheiro pro tira gosto corriqueiro e ficaram imaginando o que fazer para acompanhar a pinga. De repente, a resposta veio do céu: Os pombos do vizinho! Fizeram pombos à passarinho, e a festa rolou o dia todo.
O vizinho esperou que os pombos voltassem pra casa na boquinha da noite, como era costume. Como não apareceram,  ele saiu procurando suas aves  de estimação de porta em porta, até que chegou à casa do pai da D’Guia e perguntou:
- Por acaso os senhor viu meus pombos? Só voltaram quatro e seis não retornou para o pombal.
- Não vi não. Hoje não vi nenhum, achei até que estavam presos. Mas, procure que vai achar...
D”águia ouviu todo o diálogo. E quando o vizinho agradeceu e estava no portão, ela saiu pela lateral da casa e chamou:
- O senhor ta procurando seus pombinhos né?
- Sim estou. Mas, ninguém sabe deles.
- Eu sei... Olha aqui os pezinhos dos seus pombinhos - ela tinha colocado todos os pés num saco e abria pra ele ver – Eles comeram seus pombinhos com pinga. Esconderam as penas e os pés dentro de um saco pra jogar bem longe amanhã, mas eu trouxe os pezinhos pra você acreditar que eles morreram...
Nesse dia quase que D’Guia ficou órfã. O vizinho enfiou um revólver na boca do pai dela e disse que ia fazê-lo engolir a arma, tal qual engoliu seus pombos. Depois de muito deixa disso, pare com isso, pense bem, o vizinho relevou e foi embora. E nesse dia a pobre menina apanhou como nunca tinha apanhado na vida.
Pobre menina pobre! Lamuriosa repetia sem parar: “ Eu não entendo o que querem comigo, pois se minto, apanho, e se digo a verdade, apanho também! Assim fico confusa... Acho que o problema é que disse a verdade numa hora errada...  E ainda dizem que a verdade cabe em todo lugar!  Tsi...Tsi...Tsi... 

23 comentários:

  1. Marly,

    Excelente questionamento em forma de conto.
    A verdade sempre deveria caber e se fazer em qualquer lugar, infelizmente , sabemos que não cabe e nem se faz ...


    Bjo Grande.

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  2. Coitadinha rsrsr.. agora que ela fica perdida mesmo sem saber que caminho tomar rsrsr.. da verdade ou da mentira rsrsrs.. Belo texto Marly!

    Beijoquinhas super em seu coração..
    Verinha

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  3. Verdade verdadeira. São principalmente as crianças as que sofrem com essas incoerências dos adultos. Aplausos pelo texto.
    Bjux

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  4. Marly, acho que esta menina quando crescer vai pra política, vai mentir à grande, vai enriquecer muito e depois vai usar os pais para se engrandecer: fui o arrimo deles...
    Grande abraço amiga....

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  5. Querida Marly:
    Por isso a gente inventou as ‘mentiras piedosas’.
    Meu avô contava uma história:
    Quando alguém morria na aldeia, o coveiro ouvia o choro das carpideiras:
    Por favor, não levá-lo! Por favor, coveiro, e não enterrá-lo!
    Cansado da gritaria, o enterrador decidiu fechar o portão do cemitério, para que todos pudessem conservar o cadáver de seus mortos. Três dias depois, a gente gritava em sua porta:
    Coveiro, por favor, leve este corpo! Por favor, coveiro, enterrá-lo!
    A verdade é um defunto que todos choram, mas depois de três dias, eles preferem seputá-lo. Realidade cruel, mas realidade.
    Beijos e Boa Noite.

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  6. Oi, Marli, gostei demais desta narrativa: se não fala, apanha; se fala, apanha...
    A arte de conversar é muito estranha: tem hora pra tudo, pra mentir, pra omitir e pra falar a verdade! O negócio é ficar atenta. Ó, mundo!

    Adorei.
    Beijão, amiga.
    Tais Luso

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  7. Marly,
    Que situação esta da D'Guia! Como esta menina terá noção do conceito da verdade?
    A verdade deveria caber em todo lugar, mas, nós, adultos, sabemos que nem tanto. Para a garota ficou complicado discernir.
    Excelente!.
    Beijos.

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  8. Marly
    Os adultos têm o grande "dom" de criar essasconfusões na cabecinha das crianças. Há figuras de linguagem que também devem deixá-las loucas, tipo: dar nó em pingo d'água, falar feito o homem da cobra, sou toda ouvidos, e outas tantas que rolam no nosso dia a dia!!
    Bjkas, minha linda do coração!Te adoro!

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  9. Contava histórias mirabolantes por conta da fome que sentia, tadinha!!!
    Tinha fome e de estômago vazio ninguém raciocina direito...
    rsrsrsr
    Ai! Ai! Ai! Marly.
    Estou a rir até agora dos pombinhos que foram comidos com pinga!!!
    Deixa a associação protetora dos animais saber disso...
    Mas que coisinha mais fofa essa Maria.
    E bem verdade - ela ficou meio na corda bamba sem saber, depois de tudo...
    Ainda deve estar se perguntando se conta a verdade ou a mentira.
    Beijinhos

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  10. Sim, a verdade cabe em todo lugar, nós é que às vezes não cabemos nela... Falta de hábito, será?

    Então, voltei! E feliz por ter o privilégio de novamente ler postagens tão bem escolhidas como as tuas. Amei!

    Beijão pra ti, Marly!!!

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  11. Marly,

    Um excelente texto, um conto e tanto, com ares de crônica!


    A verdade há de aparecer nem que seja na hora indesejada!



    Um abraço, Marluce

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  12. Pois é Marly, nem sempre a verdade soa tão bem. Sabia que seu conto me absorveu de tal maneira que li tão depressa que mal respirava enquanto meus olhos corriam os parágrafos? Seu conto tem um quê de drama/realidade. A dureza da vida reinventada aqui lembra em muito a de muitos brasileiros, cujos filhos, vestem uniformes sujos com os pés descalços e a barriga vazia. Parabéns!

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  13. Pior é que as coisas acontecem assim mesmo. Nós ainda podemos avaliar o momento certo para escapulir de uma verdade, mas as crianças, coitadas!!!!!

    Bjs.

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  14. Marly... vou voltar para ler daqui a pouco..

    Dentro de um contexto, vc me autoriza a postar uma cronica sua junto com uma ceramica minha?
    Adoro seu humor.. e td que vc escreve.

    Vc pode escolher a cronica... se bem..que seria melhor eu escolher..rsrs

    Um bj..aguardo sua resposta..
    bj

    MA

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  15. O melhor é não ir a lugares onde a verdade não caiba. Um abraço, Yayá.

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  16. O díficil não é entender o q é verdade ou mentira, o difícil mesmo é entender os adultos...

    Gostei do Blog

    Abraços

    Alexandre
    http://soupretomassoulimpinho.blogspot.com/

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  17. Uma anedota muito triste porque não suporto baterem em crianças. Será que esta história não poderia ser de outra maneira ?

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  18. Eu penso que por mais que ela doa,,,por mais que seja dificil...a verdade sempre deve estar a frente...grande beijo de bom dia pra ti querida.

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  19. oi Marly,

    antes de mostrar com as palavras,
    que só criam conflitos,
    devemos ensinar as crianças com exemplos,
    e claro que a verdade sempre vale a pena...

    beijinhos,
    amiga

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  20. Muito bom quando estamos pronto para a leitura...crescemos intelectualmente...muito bom...aplausos...
    Bjssssssssssssssssss

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  21. Que judiaria!!

    por isso conversar e explicar certas coisas às crianças vale mais que encher de tapa... porque além de não ensinar nada, ela começa a fazer determinadas coisas pelo medo, e não porque sabe que é o certo a fazer!

    Mas um belo conto, dona Marly Fagundes Telles...rsrs

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  22. Grande beijo de lindo final de semana pra ti querida...

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  23. Ótimo texto.
    Sou novato por aqui.
    Ainda pretendo ler seus demais contos.
    Valeu mesmo.

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