O crocodilo quando está devorando
suas vítimas chora copiosamente [quanto mais gostosa ela estiver, mas
lágrimas]. Esse é o tipo de dó dispensável para a vítima. O dó que dura pouco
visto que os interesses falam mais alto.
Encabulava-me a dor que minha
prima sentia ao ver sua mãe matando uma galinha para o almoço. Ela acocorava
perto da galinha agonizante e gemia, gemia e gemia. Lágrimas e soluços eram em
abundância, todavia bastava ouvir o refogar da “pobrezinha” na panela que logo
pedia para a mãe dar-lhe o fígado para provar... Esse é o dó dispensável pra
galinha mortinha.
Já minha filha jamais comia carne
de aves, pois tinha muito dó da pobre galinhazinha que morreu pra gente comer.
Mas sempre pedia pra fazê-la ao molho, pois ela adora [ainda] deixar o arroz bem molhadinho dele...
Ué, mas o caldo não é feito da carne da pobrezinha???
E minha sobrinha, só come carne
de boi [no açougue é difícil definir de quem é a carne]. A vaquinha não pode morrer, pois dá leitinho gostoso pra gente... E
por acaso o boi é imprestável?? Se bem que ele não dá leite... E meu pai quando
criança matou onze porquinhos porque ficou com dó de vê-los tão feios e magros no
meio de uma vara gorda e saudável. Penso que os porquinhos feinhos dispensavam
com gosto esse dó da feiura deles e preferiam continuar vivos.
Fico pensando quantos dós
dispensáveis temos nessa vida? O agasalho que amarela na gaveta e sempre
sentimos um aperto no coração ao ver aquele menino quase despido e no frio de
trincar, bem ali na esquina, mas o agasalho continua na gaveta e já nem serve
para ninguém da casa... Ou os sapatos que mofam guardados, ou os cobertores que
apenas aquecem o guarda-roupa, ou as frutas e verduras que perdem na geladeira
[enquanto muitos passam fome e vontade de comer algo...E a gente com tanto dó
dos famintos. ]
Dó é o sentimento que é exprimido
por um misto de pena, pesar e repugnância em relação a algo. Quando
verdadeiramente sentido tem poder de mudar situações... Um dó que nos
constranja a agir com veemência, com amor, com comiseração. Um dó que vá além
de palavras e ações vazias. Não, eu não falo do dó da minha prima, filha ou
sobrinha, pois essas eram ou são crianças, mas o exemplo vale para descrever o
dó dispensável do adulto... Vamos repensar o dó social?
Amiga sua prima me lembrou um episódio dos Simpsons onde o Homer chora comendo sua lagosta de estimação. É hilário.
ResponderExcluirMas o dó social este não é meeeeeesmo. Quantos de nós morremos de só dos moradores de rua nesse frio que está fazendo e deixamos nossos cobertores aquecendo os armários?!
Belíssimo post.Parabéns negona!!!
Boa noite Marly.. essa parte de matar a galinha.. eu presenciei na minha infancia.. aquelas galinha caipira para uma baita sopa.. o coisa boa.. coitada da galinha.. mas faz parte né rsrs linda noite bjs
ResponderExcluirUma boa reflexão sobre o dó social. Tantas possíveis ações que esquecemos amarelando em algum lugar de nós.
ResponderExcluirAproveito para te convidar a fazer um teste que indiquei lá no blog sobre "que livro você é", tipo teste capricho. Lembra?!
Bj
Olá Marly,
ResponderExcluirUma questão importante. Nunca fui fã das expressões 'dó' e 'pena', mas, querendo ou não, são sentimentos que somos levados a sentir. E para compensá-los, somente mesmo com atitudes que procurem amenizar as circunstâncias que os provoquem.
Gostei muito da sua expressão 'dó dispensável'. Ela diz muito.
Beijão.
Bom dia
ResponderExcluirA verdade que dói... ver o menino que treme de frio, sem roupa, quando nós temos tanta dentro de gavetas e armários que nunca mais vestimos.. Emocionei-me ao ler
Fique feliz
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Querendo, visite(m)-me
http://pensamentosedevaneiosdoaguialivre.blogspot.pt/
Um grande texto, xexudinha. Eu até dou minha mão à palmatória. Um dia desses deitado, pensei: Tenho algumas de roupas em bom estado que não uso mais, vou juntar e dar a alguém. Boa ideia, né? Pois acabei esquecendo depois e não fiz isso. Mas agora vou sim, depois desse texto. E as pessoas não precisam de dó... precisam de soldariedade. Muito diferente. Beijos mil.
ResponderExcluirUN TEXTO QUE NOS DEJA UNA GRAN REFLEXIÓN. UN PLACER VISITAR SU ESPACIO.
ResponderExcluirUN ABRAZO
Um texto que faz pensar. Na minha infância no sítio minha mãe sacrificava sem dó as galinhas para canjas ou refogados. E ver a cena era normal. Hoje não suportaria ver um frango degolado.
ResponderExcluirUma feliz semana para você.
Bjs.