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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

SOMAS E SUBTRAÇÕES




Ah, que indivisível sentir é esse?Que confusos somos...
Confundimos algo tão simples e complicamos algo tão descomplicado. 
Queremos um total de igualdade quando na verdade a atração está na diferença que se revela. Concordarmos com tudo nos faz sem graça, sem sal e sem uma conversa interessante... 

Eu não quero ser parte que te completa, ou que você seja minha outra metade e sabe por quê?
Eu e você somos seres completos e necessitamos um do outro para compartilharmos nossas diferenças, nossas opiniões, nossos desejos, nossas alegrias, nossos desapegos, nossa pequena grande vida...

E se tem que ser à parte, que seja!
Pra que filosofias, imposições, quereres vãos que vão além das afinidades? 
Se eu quero migalhas?? Sim quero! E quero muitas, todas que quiser dar-me,
afinal como diz aquele velho e bom ditado “é de grão em grão que a galinha enche o papo”.
É na soma das gotas que se forma uma chuva, e quando as gotas são abundantes, há tempestades...

Eu quero é nadar de braçada meu amor![Nem que seja contra a correnteza!]






Marly Bastos

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

É NATAL [DE QUEM???] -

                                          FOTO DA INTERNET
Eu acreditava em Papai Noel. Foi menina do interior que esperava ansiosa o dia de Natal e claro, colocava os sapatos debaixo da cama pra ele saber onde deixar o que eu tinha pedido. Não eram grandes pedidos, não eram sonhos irrealizáveis para um Papai Noel, mas o fato é que ele nunca realizou um pedido meu [e nem dos meus irmãos]. Comecei a achar que o Papai Noel fazia acepção de pessoas, pois para os meus primos ele dava o que eles queriam, para mim e meus irmãos nunca deixava sequer um brinquedo. Apenas balinhas, pirulitos, gomas de mascar e Maria-mole...

Ficava imaginando que ele deveria ficar todo sujo, pois teria que descer pela chaminé do fogão e era tão estreitinha [como é que caberia aquele velho gorducho?]. Será que era por isso que ele ficava com raiva e deixava somente aquelas guloseimas? Deixávamos as janelas dos quartos entreabertas para facilitar a vinda dele, mas nem isso adiantava. Ele não gostava nem de mim e nem dos meus irmãos...

Hoje fico imaginando quantas crianças passam pelo mesmo drama que eu [drama sim, eu não entendia que o Papai Noel, presenteava de acordo com o bolso do seu pai] de se achar menosprezada pelo “bom velhinho”. Imagine as crianças nos orfanatos, ou em lares tão sem recursos como era o meu. Nossa decepção era visível e meu pai ficava com os olhos embaçados de lágrimas. Eu pensava que ele também ficava triste com o Papai Noel. Ele ficava triste era pela impossibilidade que sentia diante das circunstâncias. Posso garantir que foi mais traumatizante para eu saber que Papai Noel era uma mentira do que descobrir que cegonhas não trazem bebês.

Contei minha história para que entendam o porquê da minha reserva e até indiferença com esse dia tão alardeado. Natal é uma festa Cristã né? Mas, se perguntar as crianças qual é o símbolo do Natal elas vão dizer: Papai Noel, presépios, árvores de Natal, presentes... Enfim, é o dia que todo mundo se reúne para comer peru, pernil e outras coisas gostosas [e beber também, se possível até cair]. 

Natal é o dia em que se comemora o nascimento de Cristo, portanto o seu aniversário. E geralmente nesse dia de festa, confraternização e alegria pelo nascimento do Aniversariante, ele não é convidado e nem sequer lembrado... “Troca-se presentes, vestem-se de” Bom Velhinho, brindam “Feliz Natal”, mas Cristo continua de fora da festa! Como pode isso? Festa sem aniversariante!

Natal é para mim capitalismo exacerbado. É dia em que as contradições sociais mostram a cara, pois enquanto uma parte esbanja fartura, a outra amarga as sobras nos latões de lixo ou sonham com a coxa de peru que enfastiado, alguém deixou no prato pra juntar aos dejetos.

Natal deveria ser tempo de reflexões, de renovo, de renascimentos. O Natal é uma festa cristã, onde tantas crenças e enxertos a uma comemoração tão simples tornou-se desvirtuada. O Natal genuíno é aquele que é comemorado todos os dias e em agradecimento ao Rei dos reis que nasceu em humildade para nos fazer grandes em amor e comunhão com Ele e com o próximo.

Agradecemos a ti oh Deus, por ter nos enviado o Seu Filho, que se despiu da Sua Glória, encarnou e se fez homem de dores para nos dar eterna vida. Se eu comemoro o Natal? Sim, mas sem esse acerbado espírito natalino, que parece contagiar por um tempo todos, e muitas vezes, dele fica uma boa dívida pra lembrar por meses essa comemoração...

                                                                   Marly Bastos

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

MEU PRIMEIRO BICHINHO DE ESTIMAÇÃO



                          foto da web

Quando criança eu queria um bichinho de estimação, pois minha irmã tinha um e eu não. Morávamos em fazenda e eu não considerava cachorro e nem gato bicho, era animal de casa.Então, não servia.

Minha irmã ganhou um filhote de papagaio, e eu queria algo parecido. Perturbava meu pai dia e noite, querendo um bicho pra mim, mas tinha que ser bicho do mato. Pintinho também não servia, porque era ave, e não passarinho.

Um dia, apareceu um bando de gralhas atacando os ninhos das galinhas, matando os pintinhos e bebendo todos os ovos, postos no dia ou chocos. Meu pai, com uma espingarda de chumbinho espantou o bando, e uma delas foi atingida na asa e caiu... E ele presenteou-me com ela.

Eu na minha inocência dos cinco anos, pensei que ia ser uma amizade pra sempre! Até que fui dar arroz cozido na mão pra querida gralhinha e quase fiquei sem os dedos. Ela bicou minha mãozinha sem dó, até sangrar. Lágrimas de dor e frustração desceram dos meus olhos. Eu a perguntava o porquê da bravura comigo, pois não tinha sido eu quem a havia machucado, mas ela com os olhinhos redondos, peito estufado, respondia com piados estrangulados e agudos.

No outro dia, com a mãozinha enfaixada, fui até onde o meu bichinho de estimação estava amarrado pelo pé, e forcei novamente a amizade. Com todo carinho tentei dar um beijinho na asa machucada pra sarar, igual mamãe fazia comigo, e ela avançou no meu rosto quase arrancando meus olhos. Fiquei com a cara parecendo que tinha recebido uma descarga de chumbinho. Tipo assim:” pai que com chumbo feri, filha com bico será ferida(igual chumbo).

Não quis mais o bichinho de estimação... No outro dia, voltei lá e disse pra gralha:” Você não é amiguinha, pois é má, machucou minha mãozinha e meu rostinho... Você não é bonita como o papagaio e fala muito feio. Pode voltar pro mato!” Dei as costas pra ela e saí pisando duro. Lembrei! Voltei e disse mais: “E vai ter que se soltar sozinha, pois eu tenho muito medo de você sua... sua... graaaaaaaaaaaaaalha!”

Bem... Eu voltei lá uns dois dias depois, mas a gralha havia sumido. Nunca fiquei sabendo como ela saiu de lá, mas desconfio que não sobreviveu, pois a gralha é considerada uma praga, destrói uma ninhada de ovos num piscar de olhos e ainda mata os pintinhos novinhos. Sei lá...

Marly Bastos

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A DOR ANTISSOCIAL

            Imagem da Web
A dor emocional dói tanto quanto a dor física! Ela dilacera nosso coração, causa uma ferida na alma e mata os nossos melhores sonhos. É uma dor eminente esmagando nossos sentimentos, nossas vontades, um fogo consumindo nosso interior, uma inquietação no espírito. Essa dor é a famosa desilusão.

A sociedade não liga muito para esse tipo de dor. Insensíveis seguem seus rumos, olham a casca e não veem que por dentro a gente tem uma hemorragia... Ainda servimos de chacota para os fofoqueiros dos corredores, para a língua peçonhenta da tia beata e para colegas que têm inveja do que você viveu... Cada desilusão é um pedaço de nós que vai embora, dói tanto, que quase sentimos nossa vida se esvair pelos poros.

E quem faz sofrer? Geralmente segue seu caminho indiferente, se sentindo livre, leve e solto, achando que se livrou de uma... “Uma o que mesmo?” Bem... Você foi atropelada por um condutor do amor, ficou estatelada no chão da amargura, sangrando copiosamente, gemendo de dor, e ele insensivelmente continuou o caminho da felicidade sem olhar pra trás, não prestou socorro, não teve tato, apenas seguiu... Quando você foi atropelada, o mundo ainda era cor de rosa, agora parece roxo, igualzinho os hematomas que ficaram na alma

A dor é de montão, os conselhos que não queremos são mais ainda! Queremos tempo pra curar a dor de cotovelo, a amargura, o vazio existencial, o medo de tentar novamente, a dificuldade em aceitar o fim, o descrédito e a autoestima temporariamente em baixa. Queremos tempo para perdoar quem nos causou essa enorme dor, e precisamos de tempo para digerir o sentimento que não passa de uma hora pra outra... Mastigar, mastigar, mastigar... Engolir, ruminar... E na calada da noite novamente mastigar... No tempo certo vai ser digerido facilmente, mas há um tempo!

Vai bater o desespero, o choro, a dificuldades de sorrir, o sarcasmo, o desânimo, a desesperança... Ainda assim, acredite na poesia que há na vida, e repinte seu arco-íris, refaça seus projetos, trace metas, busque outras canções, reformule seus conceitos, reflita sobre suas verdades, sonhe com coisas inefáveis, aprenda a se amar totalmente, se permita, seduza e acima de tudo, mesmo que mancando, se arrastando, gemendo pelo caminho, siga em frente, pois a vida é maravilhosa e um minuto é muito pra sofrer por quem não te merece. Infelizmente, vai ter que perder o tempo necessário pra sentir a dor, para catarsear o sofrimento, ou ele se tornará crônico.

Marly Bastos

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O PASSADO ÀS VEZES VOLTA PARA NOS ALIVIAR


Estava sentada em uma sorveteria em Caldas Novas, espairecendo um pouco as idéias, para voltar e continuar a trabalhar em minha dissertação, quando entra um casal e mais uma moça. Pareceu uma família. Eu sou do tipo que se estou andando ou preocupada com algo, não presto atenção em nada, mas se estou tranqüila eu noto detalhes, sondo as emoções e ações das pessoas.

A mãe e a filha foram pedir o sorvete e o homem sentou numa mesa próxima. Olhei disfarçadamente para ele, chamou atenção a cor café da pele com os olhos azuis como um céu sem nuvens. Ele colocou a mão direita apoiando o queixo e notei que faltava um pedaço do dedo indicador... Comecei a ficar inquieta! A mulher vira para ele e diz: “Adão, você quer sorvete de pequi?” Gelei! Adão???

Voltei no tempo, quando tinha 4 anos e revivi em instantes a dor, medo e culpa que eu por muitos anos carreguei, até conseguir jogar no esquecimento tudo que aconteceu.

Eu era uma garotinha introspectiva, embora falante. Gostava da solidão e dos meus amigos imaginários e não aceitava intromissão no meu mundo. O caseiro de meu pai tinha um filho, um pouquinho mais velho que eu e insistia em se enturmar à força. Adão era da cor café e olhos tão azuis que dava medo. E foi num dessas intromissões que tudo aconteceu.

Eu usava para quebrar coco uma rocha que havia no quintal e uma peça quebrada de carro. Bem pesada, e eu tinha que fazer esforços supremos para conseguir levantá-la e o coco era esmigalhado, pois o peso era muito. Mas, valia já que ninguém tinha tempo para quebrá-los para mim.
Lá estava eu tentando quebrar um coco! Colocava-o sobre a pedra, pegava a peça de ferro e quando ia levantando-a, o menino-café tirava o meu coco e colocava um dele para eu quebrá-lo. E é claro que eu não quebrava. Abaixava a peça de ferro, tirava o coco dele e novamente colocava o meu... E quando ia levantado o ferro, ele retirava o meu coco e colocava o dele. E tudo se repetia de novo. Na quarta ou quinta vez que isso ocorreu, eu lancei a sentença: “Se mexer no meu coco de novo, vai se arrepender!” E ele mexeu. Tirou o meu coco e quando ia colocando o dele eu desci o ferro com força...

Lembro apenas de uma mãozinha esbagaçada na pedra, ele gritando que eu havia arrancado o dedo dele. Ainda tenho na mente os olhares de raiva sobre mim(ou eu via os olhares desse modo) mas mesmo assim eu ia à casa dele levar bolo, farelo de castanha de coco( já que eu não controlava a força e quando ia quebra-lo, esmigalhava tudo). Passei muito tempo lembrando da maldade que fiz e sinceramente sempre tive na lembrança que havia arrancado a mão dele. Eles foram embora da fazenda pouco tempo depois, e sempre associei a partida deles com o fato.

Minha mãe me disse a uns anos atrás que foi um pedaço do dedo indicador (pensava que fosse a mão...), e isso me trouxe certo alívio, afinal a mão tem cinco dedos.

Agora eu estava vendo (um velho rsrsrsrs) cor de café, com olhos azuis e um indicador pela metade, e com nome Adão... Será que devo falar com ele ou não? Que dúvida! Ainda me pesa o que ocorreu, mas acho que é hora de resolver isso. Só preciso ter jeitinho ao falar, ser sutil e sondar.

Levantei e fui até onde estavam os três e disse num só fôlego:
- Boa tarde, meu nome é Marly, filha do David de Bastos e penso que fiz isso no seu dedo! (Aff que sutileza heim?).

Ele levantou e disse:
- Não acredito! Você é a garotinha que quebrou o meu coco e dedo ao mesmo tempo?

- Pois é... Estava olhando vocês quando entraram, e me chamou atenção a sua cor de pele e olhos e a da sua filha. Depois falaram seu nome e eu olhei a mão... Foi um pedaço razoável de dedo.

- Já aprendi a viver sem ele, afinal tem mais de quatro décadas isso não é? - Olhou para o cotoco de dedo e sorriu.

- Sim tem, mas em nome da minha infância, da minha introspecção, do meu mundo particular, da minha falta de senso, gostaria de pedir perdão pelo que te fiz.

- Perdoada a mutos anos! E se está sozinha eu e minha família te convidamos pra jantar lá em casa amanhã, pois assim podemos colocar o papo em dia! Embora, me lembro bem de que você nunca me deu chance de papo algum quando tinha quatro anos.

Agradeci, mas disse que não poderia ir, tinha trabalho a fazer e o tempo já se esgotava. Despedi com um abraço em cada membro da família e saí dali mais aliviada, mais leve! E sinceramente nem imaginava que isso ainda me pesava. Agora estou leve! Ao menos quanto a essa bagagem que carreguei por tantos anos.

Marly Bastos